23 de dez. de 2010

A Natividade do Senhor

Os cristãos celebram, dia 25 de dezembro, a Festa da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todo mundo conhece a estória; está contada no Evangelho segundo a Tradição recebida de São Lucas (Lc 2.1-20):

Naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado. Este primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria. E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade.    Subiu também José, da Galiléia, da cidade de Nazaré, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam ali, chegou o tempo em que ela havia de dar à luz, e teve a seu filho primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.   Ora, havia naquela mesma região pastores que estavam no campo, e guardavam durante as vigílias da noite o seu rebanho. E um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor os cercou de resplendor; pelo que se encheram de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: Não temais, porquanto vos trago novas de grande alegria que o será para todo o povo: É que vos nasceu hoje, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis um menino envolto em faixas, e deitado em uma manjedoura. Então, de repente, apareceu junto ao anjo grande multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens de boa vontade.   E logo que os anjos se retiraram deles para o céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos já até Belém, e vejamos isso que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer. Foram, pois, a toda a pressa, e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura; e, vendo-o, divulgaram a palavra que acerca do menino lhes fora dita; e todos os que a ouviram se admiravam do que os pastores lhes diziam. Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as em seu coração.   E voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora dito.

A narrativa apresenta o Filho de Deus nascendo sem teto em Belém, em meio à peregrinação de seus pais que foram cumprir um decreto imperial. Nascendo fora da cidade, na periferia, apenas os pastores – que também viviam fora da cidade – tiveram notícia do seu nascimento, através do coro dos Anjos. A narrativa oferece muitas possibilidades de reflexão…

Como eu disse na postagem anterior (vide abaixo), pouco importa se Jesus – de fato – nasceu em 25 de dezembro. Importa celebrar, isto sim, o Mistério da presença do Deus Vivo entre nós, o Emanuel, Deus Conosco! Na figura do menino pobre de Belém se esconde o Deus da Kenósis – do esvaziamento (cf. Filipenses 2.5-11), o plenamente Humano e plenamente Divino.

Quando você estiver reunido com seus parentes e amigos celebrando o Natal Papai Noel do Mercado, lembre-se do Menino Pobre de Belém, para quem não havia lugar na estalagem, não havia lugar algum, que não foi reconhecido se não pelos pobres pastores dos arredores e pelos Magos que vieram do Oriente (Mateus 2.1-12). Por outro lado, se você está solitário, sem companhia, sem festa ou presente, distante dos que você ama, lembre-se também do Menino: você não estará sozinho!

Seja como for, que em algum momento do Natal, você possa ter um momento de Feliz Natividade do Senhor!

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21 de dez. de 2010

Natal?

Há alguns dias estava eu passando pelo Largo da Carioca, e um sujeito berrava quase à beira da histeria, que Jesus não nasceu dia 25 de dezembro, e – como é usual – culpava a Igreja Católica por ter inventado isso! De certa forma, o histérico tem razão: a data de 25 de dezembro foi adotada pela Igreja Cristã da época pós-apostólica por ser a festa pagã do Sol Invicto, o Sol Vitorioso, celebrada logo após o Solstício de Inverno (hemisfério norte). A partir dessa data os dias do inverno se tornam cada vez mais curtos até que chega a primavera (equinócio).  Mas não é sobre solstícios e equinócios que quero falar; a aula de iniciação à astronomia fica para uma outra oportunidade. Importante entender que ao adotar a data pagã, a Igreja está afirmando que Jesus Cristo é o Sol da Justiça, vitorioso e invicto diante do Mal!
Pouco importa, de fato, saber a data exata do nascimento de Jesus, seja o dia, seja o ano… importa reconhecer que – em Jesus – Deus se manifesta encarnado na história humana! A Festa da Natividade do Senhor (nome litúrgico correto) celebra exatamente o mistério do Deus que se revela na pobreza e na simplicidade de um Menino pobre e despojado.  O Mistério da Encarnação, que a Igreja celebra em 25 de março (nove meses antes!) – Festa da Anunciação – se completa na Natividade!
Entretanto, o que a gente vê hoje no mundo ocidental, dito cristão? não há manjedouras, não há o Menino, não há os pastores… às vezes aparecem uns anjinhos com cara de idiota. Mas a figura do Papai Noel é constante! como também são constantes as frases dedicadas à Paz, à Harmonia, ao “Espírito de Natal” – um tempo em que as pessoas ficam mais boazinhas e o capitalismo selvagem aumenta seus lucros com os gestos de “boa-vontade”, ou seja, os presentes! Interessante ver na TV, por exemplo, publicidade de Bancos e Instituições Financeiras falando de Paz, Harmonia, Solidariedade!!! é muita cara de pau!!! O usurário querendo parecer justo e bondoso, contrariando sua própria natureza gananciosa!!!
O Papai Noel, velhinho gordo de roupas vermelhas, bolação genial da Coca-Cola em meados do século XX é o símbolo do Natal contemporâneo, símbolo do consumismo e da hipocrisia que deseja a todos felicidades, paz e harmonia, exatamente para fortalecer o lucro dos que promovem a injustiça, a guerra, a morte!
Quando eu era criança, meus pais me ensinaram que o Papai Noel era o São Nicolau, um Bispo dos tempos antigos que, com muita misericórdia, distribuía alimentos e bens aos pobres de sua diocese. Na língua inglesa ainda se fala em Santa Claus, mas a imagem é a mesma: não se fala mais nada sobre o São Nicolau, apenas o bom velhinho da Coca-Cola. O que poderia ser um real exemplo de compaixão, solidariedade – alguém que reparte com os pobres – se tornou o incentivo do consumo: compre presentes! e o “dar presente” se tornou um imperativo das relações públicas…
É bem verdade que neste tempo, muita gente se lembra dos pobres, das instituições de caridade. A mídia das futilidades mostra com todo requinte, famosos emocionando-se ao presentear crianças órfãs… que passam esquecidas o resto do tempo! ou “socialites” promovendo “ceias natalinas” em asilo de idosos…
Feliz Natal, seja lá o que isso signifique para você!

7 de dez. de 2010

O Alemão e a segurança pública

29_MHG_rio_penha O Brasil acompanhou o show televisivo, em rede nacional, da “Conquista do Complexo do Alemão” (sendo um complexo, talvez Freud explique…). A imprensa carioca considerou o evento a “libertação” da cidade.  Uma excelente mídia para ajudar a imagem do Rio de Janeiro, visando as Olimpíadas e a Copa… bom cacife político para o Governador!

Na verdade, o espetáculo não foi tão magnífico assim. Afinal, os bandidos fugiram em grande maioria, mesmo depois da chegada da “cavalaria”, do Rim-Tim-Tim, do Zorro, do Homem-Aranha e da Super Caveira. Literalmente os bandidos fugiram entrando (ou melhor, saindo) pelo cano!  Teve até a frota naval (anfíbios), mas faltou, naturalmente a Oitava Frota dos EUA. Talvez ela venha para a invasão da Rocinha, se o Governo do RJ espalhar a notícia que o Osama está escondido lá… Entretanto, nada disso resolve o problema.

Não vou dizer que a violência urbana é consequência da miséria, deixo isso para a esquerda porra-loca que ainda insiste em existir. Também não vou dizer que a “ausência do Estado nas favelas (ooops! comunidades!)” facilita a presença dos narco-traficantes armados. Como assim o Estado ser ausente?

Assumir que o Estado esteja ausente de alguma parte do território é assumir que há “repúblicas” dentro da República – talvez por isso a imprensa insistiu no uso da palavra “guerra” para descrever a ação policial.  Seria admitir que o Governo não tem controle do território, o que não é verdade. Tanto que, quando há interesse político, o Governo se faz presente sempre, em qualquer parte do território nacional. Não ter políticas públicas para determinada região, é uma política pública!

Alguns poucos setores da imprensa apresentaram análises mais contundentes, sem a euforia da “vitória militar”! Apresentam a complexidade do problema de segurança pública, não só no Rio, mas no Brasil e em outros lugares do mundo.  Por isso, eu não vou apresentar a minha análise, até porque não sou especialista nisso. Mas não posso aceitar as análises simplistas para explicar o problema.

A Cidade do Rio de Janeiro não é campeã de violência urbana no Brasil; perde, por exemplo, para Vitória e para Recife. Porém, no Rio a violência é mais visível por causa de sua geografia. Afinal, centro e periferia se confundem, se entendermos isso como distribuição das classes sociais. Por isso, é descabida toda a exaltação da mídia, uma forma de encobrir a complexidade do problema, que é muito mais complexo que o “Complexo do Alemão”.

Policiais do Bope se preparam para entrar no Complexo do Alemão [Foto - Marcelo de Jesus - UOL][6]

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Uma coisa curiosa: na “Guerra do Complexo do Alemão”, em rede nacional, a gente pôde observar homens vestidos de preto, a  maioria deles homens pretos, perseguindo outros homens pretos, mal vestidos… não é curioso? não há ai algo curioso? pense…

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