A Comunhão Anglicana é formada por Igrejas Nacionais (ou Regionais - subcontinentais), Autônomas e Autóctones, que são chamadas Províncias. Cada Província tem sua organização própria. É "presidida" por um Bispo Primaz, também chamado Arcebispo em alguns lugares. A Província é governada pelo Sínodo Geral, composto pelas delegações clericais e leigas de cada Diocese e mais a Câmara dos Bispos. Os votos são sempre paritários. O Bispo Primaz preside o Sínodo, a Câmara dos Bispos (como Primus Interpares) e a Província. Em termos da Ciência Política, eu diria que o Anglicanismo, como o Protestantismo, adota a forma Parlamentarista de governo.
O Arcebispo de Cantuária, que é o Primaz da Comunhão Anglicana, não tem poder nem jurisdição alguma sobre qualquer outra Província ou Diocese a não ser a sua própria (Diocese de Cantuária). Portanto, ele não é o "Papa" dos Anglicanos. Não temos nada semelhante ao papado, nunca tivemos e não queremos ter! O Arcebispo de Cantuária é o símbolo da unidade da Igreja, à medida que a Church of England é a mãe, avó ou bisavó - no caso do Brasil - das demais Igrejas que formam a Comunhão.
A Comunhão Anglicana tem três instâncias consultivas em nível mundial, nenhuma delas com poder deliberativo:
a) - A Reunião Anual dos Primazes, presidida pelo Arcebispo de Cantuária, com a participação dos Bispos Primazes de todas as Províncias. Tratam de assuntos de ordem pastoral, litúrgica e buscam aprimorar os laços de Comunhão, e fazem recomendações à Comunhão.b) - O Conselho Consultivo Anglicano, se reúne em média a cada três anos, com delegados episcopais, clericais e leigos de todas as Províncias. Sua finalidade é a discussão de questões que afetam à Igreja, à Comunhão, e suas decisões têm caráter consultivo, sendo tratadas como propostas a serem examinadas e, se for o caso, adotadas ou recusadas pelo Sínodo Geral de cada Província.c) - A Conferência de Lambeth, presidida pelo Arcebispo de Cantuária, reúne todos os Bispos Diocesanos, Coadjutores e Sufragâneos da Comunhão, hoje cerca de 700 bispos, em todo o mundo. Também é consultiva, e trata principalmente de questões de doutrina, liturgia, pastoral, geopolítica, etc. e encaminha suas recomendações aos Sínodos das Províncias, que podem acatá-las (transformando em norma) ou recusá-las.
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) é a Igreja membro da Comunhão Anglicana no Brasil. Hoje o nome "Igreja Anglicana" tem sido usada por outros grupos, mas não têm nenhuma relação com a Comunhão.
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil é uma Província autônoma e autóctone da Comunhão. Tem sua própria Constituição, seus Cânones, sua organização e governo, semelhante a qualquer outra Província. Temos um Sínodo Geral que se reúne a cada três anos, o qual elege o Primaz dentre os Bispos Diocesanos. O atual Primaz é Dom Maurício Andrade, bispo da Diocese Anglicana de Brasília.
A IEAB é organizada em Diocese, cada uma delas governada por um Bispo em conjunto com um Conselho Diocesano, do qual fazem parte, de forma paritária, clérigos e leigos eleitos pelo Concílio da Diocese (assembléia anual). A maior autoridade de uma Diocese é seu Concílio, formado pelas delegações leigas de todas as comunidades, mais o clero e o Bispo. Somos nove Dioceses no Brasil mais um Distrito Missionário. Você pode encontrar mais informações no site da Igreja: www.ieab.org.br
A IEAB hoje é resultado da união três grupos de ação anglicana: os missionários que, vindos dos EUA, iniciaram a missão no Rio Grande do Sul em 1890; as antigas capelanias britânicas em solo brasileiro ( por força do Acordo Comercial com o Império Britânico em 1810); e os clérigos-missionários que vieram do Japão, no contexto da imigração japonesa, e desenvolveram igrejas no interior de São Paulo e Norte do Paraná.
Historicamente, consideramos a IEAB uma filha da Igreja Episcopal dos Estados Unidos (The Episcopal Church), que, por sua vez, é uma mescla entre a Igreja da Inglaterra (The Church of England) existente nas colônias da América do Norte quando da Independência, e a Igreja Episcopal da Escócia (The Scotish Episcopal Church), da qual recebeu a sucessão apostólica de seu episcopado e orientações.
Essa mescla das tradições inglesa e escocesa, aliadas ao Puritanismo das Colônias da América do Norte, e às diversas correntes protestantes que se juntaram em sua organização, deram à Igreja dos Estados Unidos uma identidade peculiar, que chamamos de Episcopalismo. O que veio para o Brasil, com os missionários ao final do séc. XIX, foi exatamente o Episcopalismo, e isso marca muito mais a identidade da IEAB que a tradição inglesa.
A identidade anglicana é marcada pela diversidade. Não há um padrão. Os anglicanos discordam entre si em muitas coisas; temos em nossa diversidade um leque de posicionamentos que vai desde o fundamentalismo bíblico radical até o liberalismo total, passando por muitas matizes teológicas e filosóficas. Mas buscamos manter o respeito pelas opiniões uns dos outros, de forma a preservar nossa comunhão e vida comunitária.
Portanto, nunca é possível generalizar qualquer posição ou postura entre os anglicanos. Para que haja uma posição formal – oficial – da Igreja, é necessário que o Sínodo Geral se pronuncie. Quando se trata de um posicionamento adotado em um Concílio, refere-se apenas àquela Diocese. Um pronunciamento da Câmara dos Bispos não significa uma posição da Igreja, mas do Episcopado.
Evidentemente há fundamentalistas entre anglicanos no mundo todo, ou seja pessoas que fazem do texto bíblico um absoluto por si mesmo, sem margem a interpretações, análises de hermenêutica ou das demais ciências bíblicas. Mas, digo isso com certeza, o fundamentalismo não é uma posição maioritária entre os anglicanos em todo o mundo.
Há anglicanos que se identificam mais com o pensamento da Tradição Católica herdada dos Antigos, outros são mais simpáticos às teses da Reforma Protestante do séc. XVI; há aqueles que têm sua vida devocional inspirada no Pietismo do sec. XVII ou nos movimentos avivalistas do séc. XVIII e XIX; e há carismáticos dentro da corrente pentecostalista.
Não há manuais de “anglicanismo” ou de “episcopalismo”. Ser “anglicano”, ou “episcopal” ou “episcopal-anglicano”, não se aprende em cursos ou catecismos, nem se resume em adotar certas normas doutrinárias. Aprende-se a ser anglicano apenas de uma única maneira: na vivência com as comunidades da Igreja. E, digo depois de estar na Igreja há 40 anos, nunca se pode dizer que o aprendizado foi completo… a Igreja sempre nos surpreende, aqui e ali, com seu dinamismo e sua permanente indigenização, o mergulho dentro da cultura onde evangeliza.
Somos uma Igreja para péssoas livres que não aceitam ser manipuladas em sua consciência e preservam a lierdade de pensamento. É absolutamente falso definir as diferentes maneiras de “ser anglicano” (churchmanship) como blocos partidários, separados entre “anglos-católicos”, “protestantes” e “evangelicais”. Isso demonstra total ignorância da História das Igrejas que formam a Comunhão, além fortalecer um pensamento divisionista totalmente estranho ao Ethos Anglicano.
Filhos da Reforma, sim! herdeiros da Tradição Apostólica e Católica da Igreja Antiga, sim! Mas não somos “católicos light”, nem “protestantes litúrgicos”. Somos Episcopais Anglicanos!
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Muito bom, maninho! A Igreja é assim mesmo! Sinto saudades dela... mas como você sabe, tenho de acompanhar o Herman no ministério dele...
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