16 de jun. de 2025

SOBRE MISSÃO - 2. A Cristandade: mudança de paradigma na missão

Na postagem anterior expliquei como a Igreja Primitiva entendia sua Missão: a partir do testemunho dos discípulos e discípulas de Jesus, o anúncio do Reino de Deus e o entendimento que a ação do Messias não seria de conquista, mas de misericórdia e para todos os povos. Um novo mundo era anunciado.

A mudança de entendimento do que seria a Missão começa a partir do momento em que a Igreja vai se tornando mais aceita e tolerada no Império Romano e inicia-se a Cristandade.

A Cristandade surge a partir do século IV, à medida em que a Igreja vai se tornando aparelho do Estado (Império Romano); ela continua e se fortalece ao substituir o Império, na Idade Média, e – apesar de todas as críticas – ainda sobrevive em nosso tempo.

A Cristandade é um ideal missiológico: tornar o mundo todo cristão. Na verdade, é tornar a Igreja uma instituição mundial com grande poder nas decisões mundiais. Não deixa de ser um Imperialismo, haja visto que foi modelada a partir do Império, de forma, talvez, inconsciente – afinal era o modelo conhecido.

Na Cristandade, o mote da missão e da pregação é o crescimento da Igreja; à medida em que a Igreja foi se tornando – cada vez mais – uma instituição poderosa, a missão se torna a ferramenta para isso.

Entretanto, a Cristandade hoje não tem sentido real, apesar de estar infiltrada na mentalidade do povo cristão. É natural que membros de uma instituição desejem seu crescimento e fortalecimento. Isso deu origem ao denominacionalismo, ou seja, as diferentes instituições eclesiásticas assumindo, cada uma a seu modo, a Cristandade.

O que vemos hoje é a notória redução de membresia e esforços desesperados para recuperar o crescimento, ou manter a membresia existente. A globalização e o volume de informações foi diluindo as identidades, antes tão seguras; a diversidade humana, cultural e social mostrou que inexistem absolutos – tudo ficou relativo.

Não! Não vou combater o relativismo. Pelo contrário! Sempre fui adepto à negação de absolutos; minha formação nas ciências factuais tornou isso uma certeza: a certeza de que não existem verdades absolutas – a dúvida move a ciência em sua lógica dialética porque  questionado os modelos vigentes se permite surgir novos modelos; inclusive esta afirmação também deve ser questionada!

O imperativo fundamental da Cristandade é a Igreja como absoluto, independentemente de sua diversidade denominacional.

Por isso, a grande maioria das ações missionárias é... anunciar a Igreja, promover crescimento da Igreja; isto é, fortalecer a instituição, não necessariamente anunciar o Evangelho (cf. Mc 16.15).

Uma reflexão séria sobre a Missão da Igreja deve começar pelo questionamento dos paradigmas da Cristandade. Isso pode ser doloroso.

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Nota: este texto, assim como o anterior, é parte de um artigo maior sobre Missão, ainda em fase de elaboração neste momento.

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9 comentários:

  1. Olá, Mestre! Vou de anônimo mesmo. Neste ano que se celebra os 1700 anos do Credo Niceno, ou seja, do Concílio de Nicéia, este seu breve texto poderia ser entendido como uma crítica ao referido Concílio. Espero que seja mesmo! hehehehe! Afinal, a esperteza do Constantino acaba criando a Cristandade, matando o Movimento de Jesus, que vc descreve no artigo anterior. Adorava suas aulas de História do Cristianismo na Unida.

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    1. Como vc diz ter sido meu aluno, sabe que a coisa não foi assim tão simples... Obrigado por visitar o blogue.

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  2. Boa tarde, Rev. Luiz Caetano. Prefiro o anonimato; sou pastora em uma denominação ainda conservadora; faço parte de uma nova geração que permanece na Igreja por razões sentimentais e mantendo a esperança de que as mudanças virão. Nesse sentido, foi muito bom descobrir seu blogue, por indicação de uma colega anglicana. Continue escrevendo, com a coragem que vejo em outros textos aqui publicados. O Movimento de Jesus não morreu; está vivo e se renovando. Vozes como a sua, proféticas e corajosas, estão se elevando. Mudanças de paradigma são lentas, mas irreversíveis. Graça e Paz!

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    1. Obrigado pelas palavras! Bênçãos em seu ministério.

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    2. Cara Pastora, parabéns pela sua paciência histórica!

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  3. O senhor, herege que é, parece afirmar que a Igreja Católica foi fundada por Constantino, mas engana-se! Cristo fundou a Igreja Católica e afirmou o Primado de Pedro (veja Mateus 16,15-19). Ao subir aos Céus, Ele enviou seus verdadeiros Apóstolos a pregar o Evangelho para o mundo todo., para que a Sua Igreja santificasse o mundo! Constantino foi enviado por Deus para combater as heresias e confirmar a verdadeira fé católica. Andei lendo os artigos deste blog a pedido de uma pessoa da fé católica que pediu minha orientação por se sentir abalada com suas afirmações heréticas e sem sentido. Converta-se à verdadeira Igreja de Cristo, ainda é tempo de salvar sua alma! Pe. Romualdo, sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana.

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  4. Senhor padre, lamento pelo incômodo. Agradeço seu bondoso interesse pastoral pela salvação da minha alma, mas não posso aceitar seu amoroso convite para voltar àquela Igreja (sim, já fui romano!).

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    1. Esse Padre Romualdo merece um prêmio pela sua idiotice. Acho que nem o Papa ainda pensa as coisas que ele diz.

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    2. O Pe. Romualdo tem o direito de liberdade de expressão, mesmo que seja idiotice...

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