Não se trata de fundar uma nova denominação. Novas denominações surgem todos os dias, a maioria delas como formas de exaltação de egos pessoais, busca de poder, iniciativas financeiras, e muitas outras razões que em nada se identificam com o Movimento de Jesus; de alguma maneira se inspiram nos paradigmas da Cristandade. A Nova Forma a que me refiro se fundamenta no abandono dos paradigmas da Cristandade.
No caso da
Comunhão Anglicana eu ouso dizer que as Cinco Marcas da Missão trazem em si
mesmas uma ruptura com aqueles paradigmas; entretanto, a Cristandade está tão
interiorizada na cultura ocidental que acabamos interpretando as Cinco Marcas com
base nos velhos paradigmas, e assim reproduzimos as mesmas coisas sempre,
fantasiadas de novos conceitos. Ou seja, continuamos querendo expandir a
Instituição sem criar as condições para a expansão do Movimento.
a) O paradigma fundamental: a Primeira Marca
A Primeira
Marca da Missão é proclamar as boas novas do reinado de Deus. Isso não
significa fazer a Igreja crescer! Significa simplesmente proclamar, ou seja, anunciar
e, consequentemente, como fizeram os discípulos e discípulas no início do
Movimento, testemunhar. Todas as demais Quatro Marcas se
desenvolvem a partir da Primeira; por isso, qualquer ação missionária precisa
acontecer dentro do contexto da proclamação e não da propaganda!
Se
realmente focarmos na Proclamação do Reinado de Deus ao invés do crescimento da
membresia, mudaremos de paradigma, porque não confundiremos o Reino de Deus com
a Instituição.
b) A Segunda Marca
A Segunda
Marca da Missão é ensinar, batizar e nutrir os novos crentes. Veja bem:
novos crentes, não necessariamente novos membros! Novos crentes,
aqueles e aquelas que motivados pela proclamação, se aproximam e buscam o
Reinado de Deus; por isso recebem o ensino e o batismo, recebem acolhida pela
comunidade de fé, e assim, no fraterno convívio comunitário, recebem a nutrição
que fortalecerá o caminho da busca e da percepção do Reino de Deus.
c) As Três Marcas seguintes
As demais Marcas
são consequência das duas anteriores. É através delas que a Comunidade de Fé (a
Igreja) se faz presente no mundo, evangelizando, proclamando, anunciando e
testemunhando. Afinal, essas três marcas são o Evangelho em Ação!
Responder
às necessidades humanas com amor é o que chamamos de Diaconia. É o significado
da comunhão do Povo de Deus entre si e com todas as pessoas. Sem perguntas e
sem proselitismo, acolher e cuidar daqueles que sofrem no corpo e na alma, as
vítimas da injustiça que permanece no mundo, o enfrentamento do diabólico que faz
da vida sofrimento inútil.
Procurar a
transformação das estruturas injustas da sociedade, desafiar toda espécie de
violência, e buscar a paz e a reconciliação é a consequência da ação diaconal.
Não basta socorrer, é preciso enfrentar e combater tudo que, diabolicamente,
cria a massa de sofredores, de injustiçados, as vítimas da crueldade humana que
se manifesta devido a ganância, a sede de poder absoluto, o egoísmo – as consequências
nefastas do pecado que se manifesta através da vontade de ser “igual a Deus”
(cf. Gênesis 3). Isso implica em se envolver politicamente! Diaconia não é
apenas “fazer caridade”, mas realmente cuidar das vítimas e ao mesmo tempo
combater o que causa o enorme número de vítimas neste mundo cruel e devastado por
aqueles que se julgam “iguais a Deus”.
Esse atender
as necessidades humanas implica também no cuidado com a Criação. Afinal o ser
humano é herdeiro da Criação, herdeiro do Jardim criado por Deus, não para
reinar nela, mas para cuidar dela, ser cooperador da Criação. A Quinta Marca da
Missão está intimamente relacionada às demais, é consequência direta delas.
Assim, eu
entendo e ouso propor que a Nova Forma da Igreja deve ser pensada e projetada a
partir destas Cinco Marcas, mas reinterpretadas a partir da proposta clara do
Movimento de Jesus – o Reinado de Deus. Não mais a expansão institucional
viciada em cuidar de si mesma, contraditoriamente estruturada de forma a
impedir o avanço da Missão. É necessário uma nova perspectiva teológica, uma
nova eclesiologia para não andar em círculo, reinventando o modelo que já está fracassado, pois foi inspirado nos Impérios, os quais, exatamente pelo próprio conceito, se tornam a
mentira da Serpente (Gênesis 3.4-5): se acham iguais a Deus e, assim, sobrevêm a morte sobre a vida.
Necessitamos
de uma Eclesiologia verdadeiramente Revolucionária: o significado de revolução
é a mudança radical de paradigmas!
Precisamos
redescobrir o que realmente significa encarnação do Logos, Aquele
que – encarnado - habita entre nós (cf. João 1.1-16)!
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Interrompo aqui esta série de postagens sobre Missão, que - na verdade - são partes de um único artigo, publicadas em picadinhos, para incentivar a leitura.
A sequência do texto fica para uma "segunda temporada"; afinal, eu gostaria de escrever sobre outros temas, manter a diversidade destes Pirilampos e Pintassilgos. Neste tempo de aguardo da "segunda temporada", espero que os poucos que leram os textos reflitam sobre o conteúdo, questionem, sejam críticos (e autocríticos) e - quem sabe - possam apresentar propostas para a "segunda temporada".
Sinceramente, eu não acredito que a Teologia Acadêmica possa, de fato, criar uma nova perspectiva teológica para a Encarnação, embora na Comunhão Anglicana costumamos nos definir como "Igreja Encarnada". Eu acredito que a nova forma para a Igreja de Cristo é ser, realmente, encarnada, e isso significa romper com velhos conceitos sobre si mesma! É o desafio que deixo aqui com esta série de postagens, agora encerradas provisoriamente.
Que o Santo Espírito nos abençoe e inspire!
Amém!
=/=
Como assim, "fim da primeira temporada"???? Eu aqui esperando vc começar a colocar suas ideias sobre Missão, as quais conheço algumas (nossas conversas fora do blogue, rsrsrs), e vc vem brincar de NETFLIX???? Então, manda o texto completo para mim, faz um livro, vende, sei lá! Tem previsão para a segunda temporada?
ResponderExcluirVocê reage rápido, kkk! Falta do que fazer? Não precisa ficar chateado. Eu continuo trabalhando no artigo, mas vou dar uma pausa em publicar as partes do blogue. Vou dar um tempo para o tema continuar aqui. Só isso. Já recebi críticas, em off, por algumas coisas que andei dizendo aqui... uma pessoa questionou se eu tinha alguma titulação acadêmica em Teologia rsrsrsrs! Claro que o sujeito não fez a crítica aqui, mandou e-mail. Mandei o cara à #$#@#! Como a maioria dos acadêmicos brasileiros, tem a arrogância do meritocrata! Bjs.
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