24 de abr. de 2009

O Kerygma Cristão

Nestes tempos de consumismo religioso, a pregação se tornou mera apresentação de um produto que pode ser consumido com muita facilidade, Jesus – já não mais referido como Cristo – um nome mágico que, quando invocado, realiza todos os sonhos de prosperidade (saúde, dinheiro, bens materiais, estabilidade financeira, harmonia familiar, etc.). O ensino e a catequese foram banidos em muitas comunidades, uma vez que o imediatismo comanda todas as ações dos “crentes”. Muitos “pregadores” e “pregadoras” não mais salientam a necessidade de conversão, de metanóia, mas insistem que basta cobrar a graça, exigir a graça, pressionar a Deus para que cumpra sua promessa. Diante de uma crença assim fundamentada, não há mais necessidade de ensino e catequese, nem mesmo de conversão (metanóia).

A palavra Kerygma[1] nos remete à pregação dos Apóstolos de Jesus, à pregação e ao anuncio da Boa Nova, inspirada pelo Espírito Santo desde Jerusalém. A partir da reflexão sobre o que ouviram e vivenciaram com Jesus, o Cristo, e iluminados pelo Espírito Santo, os discípulos e discípulas compreendem a ação salvífica de Deus e Sua ação na história de Israel e passam a anunciar essa boa nova resumindo a história da salvação, fazendo-a culminar na morte, ressurreição e ascensão de Jesus, o Cristo, e o estabelecimento do novo Israel.

É preciso ter claro que recebemos o kerygma através de textos produzidos após a morte daqueles que primeiro o anunciaram, ou seja, a partir de uma elaboração mais sistemática e final que já expressa a fé das primeiras comunidades cristãs. Mas é exatamente por isso, por apresentar a fé das comunidades cristãs primitivas, que o kerygma, tal como hoje o recebemos, se tornou o alicerce da Tradição Cristã.

É importante ressaltar que a ênfase do kerygma é a ação de Deus na história; o destaque é para os atos de Deus. Portanto, o kerygma é também o fundamento para o conceito de Missio Dei. A Igreja Primitiva tinha bem claro que é Deus quem toma a iniciativa da Missão de Salvação, e a realiza com a Igreja, através do Espírito Santo, sem necessitar do jogo de marketing que hoje anima grande parte dos missiólogos e missionários.
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[1] Palavra grega que significa "proclamação", sua raiz vem de Kerix, o mensageiro, aquele que traz a boa notícia. Por isso se dá o nome de kerygma ao anúncio do Evangelho (cf., p.ex., Atos 2.14-36; Atos 3.11-26; Atos 7.1-53 e outros) Do grego kérygma: mensagem, pregação, proclamação. Mais tarde passou a designar a pregação da Igreja a respeito de Jesus, sendo hoje um termo técnico na exegese bíblica do N.T.

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