Os celtas antigos não construíam templos; para eles, nenhuma construção humana pode conter o Divino, a não ser o próprio templo que a Divindade construiu para si mesma, ou seja, a Natureza. Assim, a religião da Antiga Tradição realizava todos os seus ritos a céu aberto. Em se tratando de uma religião da natureza, isso é bastante lógico e óbvio.
Mas os cristãos, desde muito cedo, celtas ou não celtas, constroem sua igrejas, templos onde a Divindade não habita exclusivamente, mas que se torna um espaço separado – sagrado – onde a comunidade se reúne para o louvor e a adoração. Para os cristãos, a Divindade caminha conosco na História; assim é o Deus que se revela na Bíblia. É a comunidade, não a Divindade, que necessita do templo para viver melhor sua experiência existencial com o Divino. Assim, no decorrer da História, a Igreja do Oriente e do Ocidente construiu templos das mais variadas formas, dos mais variados estilos, desde as muito simples capelas e ermidas até as grandes catedrais góticas. Todas elas como espaços de oração, descanso e que querem mostrar a glória de Deus.
Estou com a responsabilidade pastoral de uma comunidade cristã cujo templo é uma obra de arte arquitetônica e um dos mais belos templos da Igreja Episcopal no Brasil, e essa tem sido uma experiência muito agradável e ao mesmo tempo muito árdua. Não pelo cuidado pastoral – meu dever maior – mas pela responsabilidade compartilhada com a comunidade de zelar pelo templo.
Um templo construído entre os anos 20 e 30 do século passado, quando as técnicas de engenharia não contavam ainda com o concreto armado, tijolos refratários, tubulações seguras para a eletricidade, a água e os esgotos, cuja ventilação é totalmente dependente do desenho e não da possibilidade de instalação de ar-condicionado… ou seja, um prédio de manutenção complicadíssima e muito cara!
E isso agravado pelo fato que, por mais de 30 anos, por diferentes razões, o edifício não recebeu manutenção adequada estando com sérios problemas estéticos e necessitando de restauração geral cujo orçamento está muito além dos recursos da comunidade ou mesmo da Diocese. Por isso, estamos cuidando de conseguir o tombamento do edifício, não só pelo seu valor histórico em Santa Teresa (uma aldeia no centro do Rio de Janeiro) mas também como garantia de manutenção patrocinada permanente.
A questão que se coloca na consciência de qualquer cristão é se realmente é importante a preservação do templo, se vale a pena buscar recursos de monta para isso diante de tantas urgências que se colocam para a Igreja.
Eu afirmo que a manutenção do templo, sua restauração e conservação é – também – uma urgência para a Igreja. São vários os motivos que justificam tal postura ética.
Em primeiro lugar, a comunidade necessita do espaço sagrado para sua vida de adoração, estudo e convívio. Claro que para isso bastaria um espaço simples e barato, mas nós recebemos este templo como herança dos ancestrais da comunidade, as gerações que antes de nós e sob a mesma identidade (Igreja de São Paulo Apóstolo) construíram e partilharam esse templo em sua caminhada na história. Honrar essa memória e essa história é uma responsabilidade que a comunidade de hoje tem e a de amanhã terá de assumir.
Em segundo lugar, o templo da São Paulo Apóstolo é parte da história de Santa Teresa, parte de sua herança arquitetônica, e um dos mais belos edifícios religiosos do Rio de Janeiro pela sua simplicidade e ao mesmo tempo grandiosidade! (características do estilo gótico: simplicidade decorativa, iluminação e grandiosidade estética). Além de ser uma referência turística, o templo e o complexo paroquial têm servido como espaço de serviço e acolhimento de muitas iniciativas da população do bairro. A comunidade, de formação ecumênica, abre o seu espaço sagrado para outras atividades, especialmente culturais e artísticas e até mesmo como local de repouso e acolhida, como testemunho do amor de Deus por todas as pessoas, o Deus que não exclui mas que busca ser presença e companheiro de cada ser humano.
Em terceiro lugar, é dever da comunidade preservar o seu patrimônio, patrimônio da Igreja Diocesana, construído com as ofertas generosas recebidas de seus membros e irmãos e irmãs de outras comunidades pelo mundo.
Com a graça de Deus conseguiremos, como comunidade paroquial e diocesana, vencer o desafio e preservar com gratidão o legado que recebemos dos pioneiros que deram início à Missão de São Paulo Apóstolo no morro de Santa Teresa em 1917.
conheça o blogue da Paróquia São Paulo Apóstolo
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Concordo plenamente, pois povo sem patrimônio - inclusive material, como é o caso - é povo sem memória, sem passado, sem identidade... Sem futuro! Abraço forte. Handall.
ResponderExcluirManinho, cuidar desse templo é um dever até cívico, para preservar um patrimônio artístico como este.
ResponderExcluirMuito relevante a tua reflexão sobre o assunto! Quisera que muitos clérigos pensassem assim, tanto ai no Brasil quanto por aqui, onde os templos são propriedade pública, mas mal conservados a menos que a própria comunidade faça o esforço.
Parabéns ao povo da tua paróquia por cumprirem com a manutenção do lindo templo que herdaram dos "ancestrais".
Bj.