24 de dez. de 2025

FELIZ NATAL? SIM! FELIZ NATAL!

Tratava-se de uma festa pagã, um culto ao Sol. Após Constantino, o Movimento de Jesus passa a ser controlado, amordaçado e se torna instituição, passa a ser instrumento do Império (hoje diríamos “aparelho do Estado”). Afinal, a religião é uma expressão de poder: o controle (e manipulação) das consciências.

É o começo da Cristandade, quando o “Cristianismo”, a nova religião oficial, se associa ao Império já decadente e começa a absorver sua base estrutural. Conversões em massa, disfarçadas de “missão”. são incentivadas a partir do poder imperial Os antigos santuários pagãos vão se transformando em “santuários cristãos”; os antigos deuses e deusas são substituídos por santos, santas, e a Mãe de Jesus, o próprio Jesus se torna ídolo. O paganismo ganha um novo nome: Igreja Católica, no Oriente e no Ocidente Imperial, desenvolvendo lutas internas pelo poder (como acontece em toda instituição e em todo império) e as disputas doutrinárias pelo controle da “verdade”. O Movimento não se move, perde sua originalidade, se torna um bloco sólido, em nome da unidade monolítica de afirmações doutrinárias inspirada na filosofia, perde noção da novidade e do desafio que representa o Evangelho. A Boa Nova deixa de ser boa, e nova; se reveste do mesmo de sempre com roupas remendadas.

A cultura popular vai absorvendo e assumindo as mudanças religiosas impostas; faz sua releitura, mas não adere ao Movimento de Jesus, o qual continua no pequeno mundo oculto das comunidades de fé. O movimento das pequenas e corajosas comunidades iniciais vai se transformando na massa que se chama Cristandade; mas a semente ainda permanece viva. Assim é o processo histórico da humanidade – a eterna tensão entre Movimento e Instituição.

De certa forma, isso acontece até os dias de hoje. O Império caiu (Impérios não são eternos), mas sua marca, sua essência, se manteve na cultura de boa parte mundo e na instituição eclesiástica, independentemente de sua denominação. No processo de expansão do poder europeu, a “missão” se confunde com o colonialismo.

Todavia, o Movimento de Jesus ainda existe, sempre existiu desde o tempo dos Apóstolos e Apóstolas de Jesus. O Movimento existe dentro da Instituição, existe dentro da massa, da mesma forma que o fermento está contido na massa – exatamente como Jesus havia dito. Em qualquer unidade da Instituição sempre há um pequeno núcleo de comunidade de fé, envolvido - mas não dirigido - pela massa da religiosidade supersticiosa.

De tempos em tempos, acontecem momentos de reforma e de mudança, e assim, o Movimento continua, embora acabe absorvido e reinterpretado pela Instituição; mas continuam a surgir núcleos de resistência! Porque movimento é ação do Espírito, que se move e vai aonde quer. Assim, dentro de toda denominação dita cristã, há o núcleo e o germe da Igreja de Cristo, há o Evangelho, a herança da primeira comunidade de pessoas que conheceram, e seguiram, Jesus, as primeiras testemunhas e guardiãs da Boa Nova.

Portanto, apesar do deus Mercado, que tornou o Natal uma festa ateia, apesar das hipocrisias festivas, apesar da pressão cultural e social, há sentido em celebrar o Natal, a Páscoa, as datas de memória do Movimento de Jesus. Pelo menos para os núcleos de comunidade que existem por aí, dentro e fora das Instituições Religiosas. O eclesial permanece apesar das tentativas do poder eclesiástico em controlá-lo.

Então, que se celebre o Natal! Com humildade, mansidão e misericórdia, se aceite a sinceridade das pessoas simples, que não conhecem a História, que foram ensinadas e convencidas pela religião a pensar e a manter suas crendices disfarçadas de Tradição. Há muita sinceridade apesar de tudo, há muita gente que não se esconde na hipocrisia. Há muita gente que, ao dizer “feliz natal!”, não está fingindo ou cumprindo um “dever social de boa educação”. O abraço é sincero, o presente é dádiva, e a tal da ceia, a festa, é momento de comunhão, não necessariamente religiosa, mas afetiva.

Olhe ao seu redor, talvez você veja o Logos Encarnado semeando o Mundo Novo que chamamos de Reino de Deus! Porque, como diz a música do Flávio Irala,

O cativeiro ficará apenas na memória 
dos povos de boa vontade numa nova história 
pois, um dia, uma estrela caiu num curral...
É Natal! È Natal!


Feliz Natal!

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Um comentário:

  1. Bom ver vc escrevendo de novo, irmão! E, como sempre, direto e incisivo. Entendi o que vc diz, e algumas imprecisões históricas foram propositais, certo? Para o objetivo do texto, elas não atrapalham. Mas e as "otoridades eclesiásticas" não vão criar caso? rsrsrsrsrs. Como anglicano, vc não tá nem ai para isso, até porque não é comum esse controle entre vocês. Já comigo, dependendo de onde estiver, melhor entrar no jogo e sair de fininho! kkkk

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