10 de out. de 2009

Símbolos Religiosos em repartições e locais públicos

O assunto tem levantado polêmica, mas quero dizer logo de cara, que sou plenamente favorável à proposta do Ministério Público de São Paulo em retirar os símbolos religiosos nos escritórios, auditórios, salas, de organizações do Estado.

O Estado Brasileiro é laico por definição constitucional, significando é um Estado não-confessional; a nossa Constituição garante liberdade de culto em nosso país. Por isso, a permanência de símbolos religiosos de uma só religião, ou melhor, de um subgrupo de uma só religião, é uma contradição!

Sim, porque os símbolos que hoje aparecem são cristãos, ou melhor dizendo, católico-romanos. Não me refiro apenas à imagem de Cristo Crucificado, que é caro a vários segmentos cristãos (por exemplo, algumas comunidades anglicanas e luteranas usam o crucifixo em seus altares). O uso de uma cruz vazia teria o mesmo significado: a afirmação de que aquele "órgão público" é cristão.

Quero incorporar aqui a declaração de Frei Demetrius dos Santos Silva, publicada no jornal Folha de São Paulo em 09 de agosto passado, porque concordo em tudo com o que ele disse:
“Sou Padre católico e concordo plenamente com o Ministério Público de São Paulo, por querer retirar os símbolos religiosos das repartições públicas. Nosso Estado é laico e não deve favorecer esta ou aquela religião. A Cruz deve ser retirada!
Nunca gostei de ver a Cruz em tribunais, onde os pobres têm menos direitos que os ricos e onde sentenças são vendidas e compradas...
Não quero ver a Cruz nas Câmaras Legislativas, onde a corrupção é a moeda mais forte...
Não quero ver a Cruz em delegacias, cadeias e quartéis, onde os pequenos são constrangidos e torturados...
Não quero ver a Cruz em prontos-socorros e hospitais,onde pessoas (pobres) morrem sem atendimento...
É preciso retirar a Cruz das repartições públicas, porque Cristo não abençoa a sórdida política brasileira, causa da desgraça dos pequenos e pobres.”
O pior é a alegação de que estes símbolos religiosos evocam a "natureza pacífica" e os "valores morais" do povo brasileiro. O Congresso Brasileiro falar em "valores morais"??? é muita cara de pau! especialmente quando a posição é assumida por "bancadas", que são exatamente isso: bancas de venda de votos!

Quero ir mais além nessa questão. Acho muito estranho existirem pelo Brasil ruas e praças com nomes de santos católicos, ou datas católicas, assim como monumentos à Bíblia (que devem ser conservados com dinheiro público). 

Os que se auto denominam "evangélicos" de Salvador, por exemplo, manifestam publicamente sua contrariedade à existência de figuras de Orixás no Abaeté (claro que há exceções; há evangélicos e "evangélicos"), mas ficam orgulhosos da Praça da Bíblia, com monumento e tudo, cuja manutenção recai sobre os cofres municipais. E há praças e monumentos à Bíblia em grande parte dos municípios brasileiros. Aqui em Vitória, a imagem de Iemanjá no Pier, ao início da Praia do Camburí, "incomoda" a quase maioria evangélica da população. Mas é claro que aqui também há uma praça e um monumento à Bíblia.

  Não conheço nenhuma praça ou rua, neste Brasil imenso, com o nome de Muhamad - o Profeta, ou de Saladino - herói mulçumano que liquidou com o Reino dos Francos em Jerusalém; nenhuma praça dedicada ao Corão ou à Torá. Porque não temos Avenida Baha'i? Ou Largo de Krishna? ou Parque Siddharta Gautama? Pode ser até que exista aqui ou acolá, mas eu não conheço; e se existir é uma exceção à regra e deve provocar protestos imensos dos "evangélicos".

Alegar que o povo brasileiro é majoritariamente cristão é um contra-senso; mais contra-senso é afirmar que nosso povo é majoritariamente católico-romano (pode ser nominal, mas confessional não!). Se a questão é "maioria", então em Salvador - por exemplo - os órgãos públicos, ao menos os municipais, deveriam adotar figuras dos Orixás, não só no Abaeté...

Acho que é hora de acabar com isso. O Brasil todo imitou o Governo do Estado de São Paulo na idiotice de proibir o fumo em lugares públicos (em ambientes fechados, tudo bem). Se a proposta do Ministério Público de São Paulo for adiante e retirarem os símbolos religiosos das repartições públicas, tomara que o Brasil todo imite essa iniciativa paulista também.

Resta ainda discutir a questão dos feriados religiosos... isso será assunto em futuro artigo.
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6 comentários:

  1. Franco Boullevard disse... Excelente reflexão Professor!
    Concordo contigo sobre o estado ser laico e que a constituiçao brasileira nos garante o direito e a liberdade de culto. Por isso não devemos ter em nossas repartições públicas nenhum tipo de simbolismo ou manifestação religiosa. Assim como também deve ser intolerável todo tipo de intolerança religiosa. Quanto ao fato de que o Brasil seja majoritáriamente cristão é realmente um contra-seso. E, mesmo que isso fosse uma realidade, ainda assim, as outras religiões devem ser respeitadas. Se vamos manisfestar as nossas crenças (cristãs) atravez dos seus simbolos nas repartições públicas, então os nossos colegas umbandistas, budistas e todos os de outras religiões tambem devem ter os mesmos direitos. E, Já adiantando a sua próxima reflexão: ou retiramos os feriados católico romano do calendário nacional brasileiro, ou acrecentemos os santos e orixás, os mártires e santos anglicanos, o dia da reforma... no calendário, como feriado nacional. Resta ver qual dia que vai sobrar para o trabalho e os estudos.

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  2. Pensei que havia postado o meu comentário através do CIRCULO TEOLÓGICO, mas me enganei, e, ao invés disso, postei-o através do VEIA ARTÍSTICA - ou seja, Franco Boullevard, pseudônimo para as minhas divagações poéticas. Mas isso foi ótimo pois me deu a oprtunidade para comentar as questões de que não vemos ou não temos praças, ruas, largos, ginásios, escolas, enfim, lugares e monumentos em homenagem à Sidharta, Maomé, Saladino e tantos outros... Será que no Brasil não tem Mulçumanos, Budistas, Bahaí's, Hare Krishnas...?
    Eu mesmo já tive a oportunidade de frequentar algumas reuniões Bahaí's, mas nunca vi um monumento em homanagem à BAHA'U'LLAH, ou à ABDUL BAHÁ. Um "evangelico" poderia perguntar: "Mas, quem são esses caras? Eles andaram com Jesus? Não? Há, então pode saber que são 'endemoniados'". É assim que são tratados os diferentes. Com pouco ou nenhum respeito. Isso, quando não têm os seus templos e os seu monumentos queimados, quebrados, destruídos, como acontece na Bahia, e como aconteceu com a estátua de IEMANJÁ, no pier de camburi. Até pouco tempo eu era membro de uma instituição eclesiástica que trilhava pela "doutrina" da VISÃO CELULAR. Um dia o pastor veio todo feliz, dizer-me que ele e a esposa estavam indo para um congresso na Bahia, e que naquela ocasião, os organizadores do congresso haviam fretado um helicóptero, e, disponibilizado cinco mil litros de óleo "ungido", em tambores de duzentos litros para derramar sobre a cidade de Salvador, para "quebrar a maldição dos espíritos malignos" que reinam sodre a Bahia, e "consagrar" o estado da Bahia para o Senhor Jesus. Encerro esse comentário com uma pergunta: Isso é loucura ou abuso?

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  3. Com certeza, você tem toda razão! Imagine só feriados como Yon Kippur, Passash, Ramadã,... haja feriado! vai ser feriadão de 365 dias!
    Melhor acabar com esse catolicismo oficial sem sentido, porque ninguém usa feriado religioso para ir a algum rito!!!

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  4. Meu irmão, oportuno esse texto. O Estado deve assumir sua posição laica e não patrocinar celebrações religiósas (patrocinar porque dando feriado, patrocina!). Quanto aos símbolos, eu sei como é constrangedor para algum paciente de Hospital Público, que não seja cristão, dar de cara com imagens da mãe de Cristo, ou do Sagrado Coração nos corredores, e não ter à vista um símbolo de sua prórpia fé!
    Sou a favor da posição assumida pelo Ministério Público e SP. E sou radical como você, em favor da revisão dos feriados "religiosos". Devia ser feriado no aniversário de Buda!
    Um abraço!

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