6 de fev. de 2019

A Falácia do Ecumenismo Institucional

O Ecumenismo Institucional, especialmente depois que a Igreja de Roma se redefiniu “ecumênica”, é o conceito de “diálogo”. Diálogo que veio substituir as ações concretas de cooperação e  ações solidárias entre pessoas de diferentes credos, como era o movimento ecumênico. 

O diálogo entre instituições pressupõe e mantém imutável as diferença e geralmente só move a ação por interesses políticos institucionais. 

O ecumenismo, enquanto movimento, mobiliza pessoas de diferentes culturas e experiências com a transcendência, para uma tomada de posição diante de situações concretas da realidade humana e não discussões teológicas intermináveis entre absolutos diferentes. A ação ecumênica enquanto movimento afirma não as diferenças, mas a possibilidade de agir juntos em favor de algo; é um chamado ao agir e não ao conversar sobre assuntos absolutos. São as diferentes percepções da transcendência que motivam a ação e não uma busca do que “se pensa em comum”. A transcendência não pode ser explicada nem mesmo pela racionalidade que a percebe. Mas é a possibilidade de agir e partilhar a ação que torna o movimento ecumênico possível e não uma percepção da transcendência, seja qual for. Até com quem nega a transcendência, como os ateus (que é uma forma de pensar a transcendência: negá-la) é possível se estabelecer laços de cooperação sem ser necessário qualquer “diálogo” sobre essas diferenças.

Eu me converti a Cristo no movimento ecumênico, entre pessoas de diferentes matizes cristãs; por isso foi muito difícil eu encontrar uma igreja onde eu podia pensar e atuar com liberdade sem me submeter a dogmas doutrinários ou formas de confessionalidade. Ninguém pode negar minha vivência e meu conhecimento sobre o ecumenismo. Atuei nos dois campos, o do movimento e o institucional.
Quando jovem havia apenas o Conselho Mundial de Igrejas como instância do ecumenismo institucional; sua ação era plural, e não se limitava a questões de doutrina; suas relações internas eram bastante dialéticas, mas sempre a partir de programas e projetos.

Participei do CLAI (Conselho Latino-Americano de Igrejas) , bem depois, que é (ou era, nem sei se ainda existe…) uma instituição que reúne igrejas da vasta e diversificada herança protestante, e fazia disso sua identidade, a ponto de incomodar a igreja romana  por ser um espaço fora de seu controle institucional.

Todavia, quando Roma chega ao movimento ecumênico, seu peso institucional muda os rumos e o ecumenismo institucional se torna forte e engessado. 

A postura das Igrejas do CLAI em defenderem seu conselho sem a presença de Roma, foi, como disse um Bispo Metodista em um evento onde a Igreja Romana questionava a existência de dois Conselhos  de Igrejas no Brasil (o CLAI e o CONIC, onde Roma participa), nosso espaço de falarmos entre nós o que não queremos ou não podemos falar com vocês pelas próprias imposições internas de vocês, como por exemplo, a ordenação de mulheres…”

O ecumenismo institucional só se justifica como ação das instituições eclesiásticas na defesa de seus interesses institucionais. Sob o véu do diálogo, se criam coisas sem nenhum sentido, como modelos ecumênicos de orações tradicionais, ou discussões intermináveis sobre um ou outro tema teológico,onde se chocam posturas dogmáticas diferentes.

Por isso o CLAI  se destacava, porque ao invés de “diálogo teológico” propunha programas de capacitações, cooperação  e atuação em situações específicas: saúde, sexualidade, gênero, mulheres, indígenas, economia e sociedade, etc. Encontros de teólogos era apenas um dentre muitos programas e o objetivo não era buscar definições comuns, mas troca de visões. Não haviam comissões de diálogo sobre assuntos doutrinários. Soube que o CLAI  está acabando… talvez  porque a luta interna de poder entre as diferentes igrejas levam a alianças conforme o momento político… até porque as instituições eclesiásticas estão cada vez mais voltadas para si mesmas e sua sobrevivência.

Mas hoje, cada vez mais se vê morrer o movimento ecumênico em troca de estruturas ecumênicas a serviço de instituições como fins em si mesmas… e “diálogos bilaterais” buscam uma pretensa unidade da Igreja ignorando que a Unidade da Igreja se dá em Cristo e não em definições teológicas. No movimento ecumênico de minha juventude, se orava junto a forma protestante de orar, sem necessidade de liturgias mirabolantes que mais parecem coreografias; orávamos de forma espontânea e quando juntos dizíamos o Pai Nosso cada um da sua forma; as liturgias celebravam a diversidade e a comunhão e não determinadas posturas políticas…

Tenho para mim que a chegada de Roma ao ecumenismo trouxe o engessamento que é peculiar àquela denominação religiosa… mas isso é outra heresia, para outro artigo…

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2 comentários:

  1. Li este artigo anos depois de ser escrito.odavia, parece-me bastante atual, Como o senhor, participei - nos tempos de juventude - de ações ecuimênicas de solidariedade e de reflexão onde a diversidade era enaltecida pelas diferentes e inteligentes formulações.
    Lamentávelmente isso acabou, praticamente.
    Que o Espírito Santo renove a Igreja de Cristo em sua totalidade - catolicidade - e que as denominações e diferentes confissões cristãs se entendam como parte da ùnica (e diversa) Igreja de Cristo.
    Parabéns pelo artigo. Bom ver que há quem pensa com seriedade.

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  2. Obrigado, amigo (ou amiga) pelas palavras. Que Deus abençoe as pessoas ecumênicas, que savem conviver com a diversidade humana!

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