Síntese do Sermão proferido no Domingo da SS. Trindade de 2015 na Paróquia São Paulo Apóstolo
Conta uma tradição que certa vez estava Santo Agostinho de Hipona refletindo sobre o “Mistério da SS. Trindade”. Ele queria entender a partir da lógica helenista de seu tempo. Agostinho, olhando para a praia enquanto meditava, viu um menino brincando na areia, de forma curiosa: o menino havia cavado um buraco na areia e, com um vasilhame, corria até o mar e trazia água que jogava no buraco, e ficava olhando. Em seguida, ele voltava ao mar, e trazia água e jogava no buraco. E fez isso muitas vezes. Agostinho ficou encafifado com aquilo e resolveu descer até a praia para ver aquilo de perto. Ele precisava espairecer um pouco porque sua cabeça estava doendo de tanto pensar sobre a SS. Trindade e, talvez brincando um pouco com o menino, poderia distrair-se.
Chegando à praia, viu que o menino continuava fazendo a mesma coisa, parecia até um ritual: ia até o mar, enchia o vasilhame com água e jogava no buraco cavado na areia. Agostinho se aproximou e perguntou ao menino: “_ O que você está fazendo, com essa brincadeira de buscar água e jogar dentro do buraco?”. Olhando para Agostinho, o menino disse: “_Estou colocando o mar todinho dentro desse buraco!”
Agostinho riu e fazendo um carinho na cabeça do menino, disse: “_ Meu filho, isso é uma coisa impossível! Você não vê que a areia absorve a água que você joga? essa água volta para o mar… você não vai conseguir colocar o mar todo no buraco que você cavou, nem que faça o buraco crescer dez vezes!” O menino, olhando bem nos olhos de Agostinho disse: “_ Pois saiba que é mais fácil eu colocar o mar todo neste buraco que você explicar a SS. Trindade!”; em seguida, o menino desapareceu.
Agostinho entendeu que um Anjo, enviado por Deus, veio até ele para, simplesmente, ensinar que o Mistério da SS. Trindade é realmente um mistério, trata-se de uma percepção e não de uma racionalização.
A lenda, que aparentemente é uma apelação autoritária sobre a doutrinária, não nos serve para compreendermos o mistério. A tradição bíblica do Antigo Testamento nos fala do Deus de Justiça! Já, o Novo testamento nos apresenta o Deus da Misericórdia, e o Deus que derrama a Graça sobre seu povo.
O que significam Justiça, Misericórdia e Graça no contexto bíblico? Sem estender muito o assunto, podemos entender assim: JUSTIÇA é dar a cada um o que merece: o castigo ou a absolvição! MISERICÓRDIA é não dar a cada um a punição que merece! GRAÇA é dar a cada um o que não merece!Obs.: Devo esta conceituação ao Prof. Dr. Márcio Redondo, em palestra apresentada durante um evento preparatório para a Assembleia Geral do CLAI, em 2005, na Faculdade Teológica Sul-Americana, na cidade de Londrina (PR).
Mistério é algo que, estando oculto, é revelado! ou seja, quem sabe olhar, o vê! Mistério é algo que está ai, na cara da gente, mas só quem sabe olhar pode ver! E esse seria o olhar da fé!
Não explicamos racionalmente a SS. Trindade; nem estamos dando uma interpretação racional, pois, afinal, não queremos colocar todo o mar em um buraco na praia, mas esta é uma proposta de reflexão que pode ajudar você, leitor e leitora, a refletir no significado desse Mistério e o quê esse Mistério aponta para a sua vida e a vida da Comunidade de Fé:
O Deus Justo se revela em Seu Filho como Deus Misericordioso e se manifesta como o Deus da Graça, movendo seu povo a proclamar que um novo mundo é possível, a Boa Nova de Jesus o Cristo!
A aventura utópica* da fé nos mantem na esperança desse novo mundo: como diz Aquele que está no Trono, conforme o Apocalipse: “Eis que faço novas todas as coisas” (Apocalipse 21.5b).
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* Utopia (gr.: u topos) = não lugar ainda, pode vir a ser lugar; é diferente de Atopia (gr.: a topos) = nunca lugar! Utopia é um horizonte, Atopia é coisa nenhuma!
Rev. Luiz Caetano, ost+
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