8 de dez. de 2018

O Pai Nosso Ecumênico. Ecumênico???

Eu não uso o tal Pai Nosso ecumênico. Tenho meus motivos.

1) "Que todos sejam um como Eu e o Pai somos um!” (João 17.21). Ao dizer isso, Jesus não quis dizer que todos sejam iguais! Até porque Ele e o Pai não são iguais. Quem gosta de uniformidade para garantir a unidade não entende o que é unidade. A mesma coisa é uma coisa só, é solidão e padronização. Ora, o Espírito Santo promove a diversidade:  a diversidade de dons, de línguas e, inclusive, de comunidades de fé (Igrejas). É exatamente o mover na diversidade que deve ser o mover ecumênico, não a padronização.  Porque não haveria relação ecumênica se não houvesse diversidade. Quem confunde acreditar em dogma com fé, não pode ser, de fato, ecumênico. Faz de conta que é… mas no fundo tem horror à diversidade porque não consegue conviver com os que têm a experiência da fé diferente de seus dogmas, os quais, por serem dogmas, são absolutos – são padronizados. Todo mundo tem de acreditar igual ou é anátema! Bem, acho que sou anátema!!!😈

2) A Oração Dominical dita "Ecumênica" é fruto do Ecumenismo Institucional, algo que na verdade não é Ecumenismo, mas o "faz de conta que a gente se gosta", pois seu horizonte é que "todos sejam uma única Instituição!" 
Interessante que antes da Igreja Romana se apresentar como "Ecumênica" (vários Papas consideraram o Ecumenismo um erro) entre o povo ecumênico protestantew, nós - episcopais - já dizíamos "perdoa nossas dívidas assim como nós também perdoamos...", nunca houve problemas nas celebrações ecumênicas, onde inclusive se celebrava a Ceia do Senhor!
Aliás, depois da chegada da Igreja de Roma, não se podia mais realizar a Santa Eucaristia de maneira ecumênica, ou seja, ecumenismo é só "amizade", não comunhão! (que coisa mais anti-ecumênica!) Antes de Roma chegar, o ecumenismo era um movimento a partir de pessoas das Igrejas Protestantes, as quais primam pela diversidade. O movimento foi se estruturando e acabou sendo institucionalizado na ótica das Igrejas. Ora, instituições não gostam de "diferenças" ou "diversidade", porque foge ao controle e quebra o "ser absoluto" da instituição - ameaça instâncias de poder! 

3) Além do mais, dizer “perdoa as nossas ofensas” é, para mim, supor que Deus é um sujeito egocêntrico e orgulhoso, o Qual fica ofendido pelos pecados de suas criaturas – aliás, as únicas criaturas de Deus capazes de pecar são os seres humanos, cridos à Sua imagem, segundo a Sua semelhança, aqueles a quem Deus deu o mundo para ser cuidado. Uma forma de serem parceiros na criação.  Mas que, inspirados pelo diabólico, desejaram ser mais que parceiros, desejaram ser iguais ao Criador, quebrando assim a relação única que Deus estabeleceu com eles ao serem criados.

4) Esse mesmo Deus, que se mostra profundamente amoroso, não ficou ofendido, mas triste com o pecado humano. Tivesse ficado ofendido (uma característica exclusivamente humana, porque pressupõe orgulho) não sairia buscando-nos para reatarmos a relação com Ele. E nessa busca, Deus experimentou a ira e a misericórdia, mas sempre permitia que a misericórdia superasse, porque sua grande obra é a Graça.  Centenas de exemplos na Bíblia, especialmente nos Livros Proféticos mostram isso. Deus é o Deus de toda a Graça, aquele que nos dá o que não merecemos. Deus não é adepto da meritocracia! Por isso, o que temos em relação a Deus é uma enorme e impagável dívida devido à sua gratuidade.

5) Quando os episcopais dizem "... assim como nós também perdoamos os nossos devedores", não estão propondo uma "teologia da retribuição", mas lembrando que o perdão entre nós deve ser uma prática decorrente do perdão de Deus. Não pelo mérito, mas por gratidão! A "teologia da retribuição" é heresia que contradiz tudo que o Apóstolo Paulo afirma sobre  Graça, porque se fundamenta exclusivamente na Lei.

6) A ditra "Oração Dominical Ecumênica" é validada por haver sido criada, desenvolvida e aceita no âmbito de um Conselho de Igrejas - de Instituições! Meia dúzia de teólgos indicados pelas respectivas Igrejas, criam uma forma de mostrar "unidade" através da "uniformidade" e alegam que o problema é de "tradução". Não é! é teológico. O que está por trás disso é um agradinho na instituição mais forte no Conselho e do universo cristão, a qual não reconhece - de fato - a GFraça de Deus, pois confunde sua própria instituição e dogmas como sendo o "Reino de Deus" anunciado por Jesus o Cristo.  Pior que isso, monopolizam a "graça" ao definirem quem a merece ou não a merece e se afirmam no poder de perdoar pecados, os quais são definidos pela sua Lei Canônica.

Por isso, eu me recuso, motivo de consciência e íntima convicção, a usar o tal “Pai Nosso Ecumênico” porque evita falar no poder da Graça e no chamado que recebemos de Cristo de sermos portadores (não donos) da Graça para o Mundo. Mas para quem, de fato, tem sentido devido sua experiência de fé, que o use, mas não me obrigue!

Que o Senhor nos livre do Maligno, o qual nos faz esquecer aquilo que verdadeiramente separa as pessoas: a má compreensão de poder e nos lança no mundo sem-Graça da instituição, que acaba se tornando, muitas vezes, des-Graça!

(texto revisado em 31 de julho de 2019)
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