17 de jan. de 2012

O Tempo (I)

espaco_sideralHá uma pegadinha que todo bom professor aplica nos alunos que iniciam o estudo da Física. Apresenta-se à classe um cronômetro ou um relógio, e pergunta-se: “O que é isso?”  Sempre tem um esperto que vai responder: “Um cronômetro!” (ou “Um relógio!”). O professor prossegue: “O que ele faz?”, o esperto responde: “É um aparelho para medir o tempo”. E o professor dá o cheque-mate: “O que é tempo?”. Silêncio total… e o professor prossegue: “Pois é, não dá pra definir tempo! embora se possa medir.” (uma pérola do positivismo!)

À medida que avança seus estudos, o estudante se adapta à fatalidade de utilizar o tempo como uma variável útil nas equações. Aliás, todo mundo usa o tempo assim, sem conceituar… Nós falamos em presente, passado, futuro, ontem, hoje, amanhã, e usamos todas essas características quantificáveis do tempo.

Os físicos relativistas vão mais além. Como lidam com grandezas enormes, e bota enormidade nisso, eles utilizam o tempo também como medida de distância (simplificando ao extremo, é isso ai), e falam em espaço-tempo. Espaço-tempo é uma coisa muito engraçada.

Olhe para o céu noturno. Você verá um monte de estrelas, se a poluição não atrapalhar. Escolha uma estrela, por exemplo, Sirius, uma estrela brilhante, a mais brilhante do nosso céu, que fica perto do Órion.  A luz de Sirius que está chegando aos teus olhos AGORA (presente), saiu (passado) da estrela há aproximadamente seis anos. Os astrônomos dizem que Sírius está há seis anos-luz da Terra, o que significa que sua luz, para percorrer a distância que a separa de nós, demora seis anos! Isso significa que a luz que você está vendo no seu presente é o passado da estrela.  Há coisas no céu que estão há milhares e milhões de anos-luz de nós. Quando olhamos para eles, estamos olhando para um passado muito distante, que é nosso presente. Vemos astros que não estão mais no lugar que vemos, e muitos nem mais existem!

Há corpos celestes mais distantes de Sírius que os seis anos-luz que nos separam dela. Digamos que haja um corpo celeste que está há oito anos-luz de Sírius.  A luz de Sírius que você está vendo ainda não chegou lá. Ou seja, o passado da estrela, que para você é presente, para um observador no outro corpo celeste ainda é futuro!

Olha só que coisa maluca! quando você olha o céu noturno (seu presente), você está olhando ao mesmo tempo para o passado e para o futuro! Tudo depende do seu PONTO-DE-VISTA, ou seja, de sua posição no espaço-tempo.

O Sol, que a gente não pode olhar diretamente, mas com ajuda de um filtro escuro, está há 8 minutos-luz da Terra; isso significa que sua luz leva oito minutos para chegar aqui. Vamos supor que os americanos resolvam parar de encher o saco do pessoal no oriente médio e resolvam ocupar o Sol com uma das naves da NASA (acho meio difícil porque derreteria tudo, mas como os americanos pensam que são deuses, pode até ser que inventem algo para pousar no Sol). O astronauta diria pelo rádio: “Pousamos no Sol”. Oito minutos depois, alguém em Huston, ouviria a mensagem.  Como é um técnico, ele daria a notícia: “Eles pousaram no Sol há oito minutos!”. Imediatamente, digamos 30 segundos depois, o Presidente dos United States falaria aos astronautas sua mensagem demagógica e ufanista, falando da paz mundial e outras baboseiras. Oito minutos e trinta segundos depois, a mensagem do Presidente, levada pelas ondas de rádio, chegaria ao Sol… mas ninguém ouviria, porque não há mais nenhum vestígio da nave, dos astronautas e da bandeira americana que tentariam colocar no solo [?!] solar! tudo virou Hidrogênio e Hélio.

Com muita pena dos astronautas, o que quero dizer é que até a luz que a gente recebe da nossa estrela vem do passado. E essa mesma luz ainda é futuro para um observador (o robozinho americano) em Marte.

“Pois é, meu caro” – como diria o meu velho professor de Física, o Dr.Fragoso – “estamos mergulhados em uma enorme sopa de passado, presente e futuro”.

Tá confuso? eu também! e tem coisa pior… mas por agora chega! já deu pra gente pirar por algum tempo, né? Tempo? êpa!

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