Esta postagem é sequência das anteriores e faz parte de um texto maior, sobre MISSÃO; cujas partes estão publicadas aqui a partir de 9 de junho de 2025. O texto completo foi dividido em várias pequenas postagens para facilitar a leitura. Sugiro que você leia antes as postagens anteriores (a partir de 9 de junho) para ter a visão completa do conteúdo até o momento.
Qual o objetivo maior da Missão?
A resposta define o modelo de ação missionária e define seus agentes principais. É aqui que a dialética entre Movimento e Instituição tem de ser compreendida, definida e resolvida, sem divagações e enrolações conceituais.
Há duas alternativas, a meu ver, divergentes entre si absolutamente:
a) Fortalecer a Instituição
Se o objetivo é fortalecer a Instituição ampliando sua membresia e seu poder no mundo, há um caminho bastante óbvio. Basta seguir os paradigmas da sociedade de consumo e assumir suas exigências: um bom produto consumível e um sistema de comunicação agressivo junto ao mercado - técnicas de “marketing”! E, claro, a manutenção do mercado conquistado e capacidade para sua ampliação.
O produto é sempre projetado (e avaliado) em função dos desejos do mercado, e por isso, a embalagem, a publicidade e tudo o mais, precisa de planejamento centralizado, uma estrutura burocrática competente e uma linha de comando (autoridade, não necessariamente liderança!) firme, vertical e absoluta. Como qualquer empresa de sucesso no universo capitalista.
Finalmente, precisa manter o processo de capacitação da mão de obra, capacitação essa massificante e centralizada na idolatria da (suposta) liderança, além da perspectiva ufanista da própria história e visão dogmática sobre o produto e serviços.
b) Anunciar o Reino de Deus
Afirmar os valores do Reino de Deus, tal como fez Jesus, contrapondo-o aos valores do mundo.
Não se trata de contrapor “o espiritual” com o “mundano”. Se assumimos que o “Logos se fez carne” (João 1.14), em Cristo não há mais separação entre os “dois mundos”: ao encarnar-se, o Logos rompeu a barreira entre o “sagrado” e o “profano”; a Encarnação sacralizou o profano e profanou o sagrado! A transcendência de Deus se manifesta na imanência de Jesus, o Cristo!
Ora, anunciar a Boa Nova do Reino de Deus é navegar contra a corrente dos reinos e dos príncipes deste mundo; é anunciar um novo mundo, um outro mundo, onde o trono de Deus está no meio da praça (cf. Apocalipse 21.1-8)!!!
É preciso romper com o paradigma de que a Igreja (instituição) é o sinal do Reino de Deus (ou, o que é pior, que a instituição eclesiástica é “o Reino de Deus na terra”).
Não adianta tentar um meio termo: ou se anuncia um reino ou se anuncia outro; não se serve a dois senhores! Isso é muito claro no Novo Testamento, principalmente no Evangelho segundo João, onde o confronto com o “mundo” é afirmado e assumido (João 15 – 16).
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Pelo que tenho visto aqui na Europa, o problema das instituições religiosas, inclusive aquelas de fomento à Missão, ou à ação diaconal é a redução - cada vez maior - dos recursos financeiros. Igrejas vinculadas ao Estado, de alguma forma, ainda têm uma margem de manobra, mas isso também vem diminuindo.
ResponderExcluirPenso que há uma grande falta de confiança, por parte da população, para com igrejas ou tudo que se refere a elas: corrupção dentro de igreja não é novidade, abuso de autoridade, pensamento super dogmático...
Claro que o conteúdo da mensagem evangélica precisa ser enquadrada contextualmente, mas acredito que a crise seja mais de confiança que de crença. Como vc disse em uma postagem anterior, há pessoas que se identificam com a mensagem do Evangelho, mas não se envolvem com igreja.
Você vai tratar disso nesse picadinho de textos? Sinto que - de alguma forma - você vai ter de abordar o tema. Bj.
Obrigado pelo comentário. Sim, concordo que a desconfiança é grande em relação às instituições (não só religiosas). Há uma geração que vem questionando tudo isso, ou melhor , o sentido de tudo isso. Que bom! Resta saber o que vai surgir dai. Há uma busca pelo transcendente, mas essa busca acontece fora das instituições... as pessoas tendem o buscar alternativas... vivemos tempo de transição.
ExcluirCaro Pastor, embora seguidor deste blog, prefiro comentar anônimo. Tenho acompanhado a série de postagens SOBRE MISSÃO, a qual entendo ser na verdade um único artigo, dividido como estratégia didática. Pelo rumo do texto, receio que em algum momento o senhor vai trombar com a hierarquia eclesiástica. Talvez não a hierarquia de sua Igreja, mas , com a minha, seguramente. O senhor está propondo, sutilmente, uma avaliação rigorosa das instituições, o que realmente acho necessário ser feita, maas eu não acredito que vingaria a proposta que o senhor apresente de uma nova forma. A tendencia é sempre permanecer o que se é, especialmente quando se trata de Igreja. Concordo com o senhor que o Movimento de Jesus continua presente, mas jamais provocará uma mudança de mentalidade nas instituições. Acompanhei de perto seu trabalho no CLAI (ainda existe); durante anos estive em relação com o CMI; e há muito tempo deixei de confiar no CONIC. Cito assim o exemplo do Movimento Ecumênico, que a partir dos anos 70 começou a ser monitorado de perto pelas hierarquias eclesiásticas. Fomos companheiros de ativismo ecumênico na juventude (atuei consigo na ABU) e lembro dos embates que tivemos quando as hierarquias tentaram controlar as iniciativas dos diversos movimentos espontâneas e ecumênicos que surgiram em nossa geração. Morreram aqueles que nunca permitiram o controle institucional...
ResponderExcluirObrigado, amigo, pelo comentário. Na verdade, não receio resistências institucionais. Não estou falando nenhuma novidade; muito do que tenho escrito neste artigo dividido SOBRE MISSÃO eu venho dizendo há mais de 15 anos... inclusive neste blogue. Sua observação sobre o Movimento Ecumênico expressa também meu pensamento. Mas eu acredito na dialética Movimento & Instituição. Aliás, a História do Cristianismo tem sido moldada por essa dialética. O papel do Movimento não é ser a síntese final, mas ser a antítese permanente! Pelo que você fala, somos da mesma geração e vivemos um momento dramático da história do Brasil, pois fizemos parte da resistência (acho que perdemos, mas é a mesma dialética não hegeliana). Um abraço.
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