14 de jul. de 2025

SOBRE MISSÃO - 7. Cristandade ou Igreja Primitiva?

Esta postagem é sequência das anteriores e faz parte de um texto maior, sobre MISSÃO; cujas partes estão publicadas aqui a partir de  9 de junho de 2025. O texto completo foi dividido em várias pequenas postagens para facilitar a leitura. Sugiro que você leia antes as postagens anteriores (a partir de 9 de junho) para ter a visão completa do conteúdo até o momento.

A questão que se coloca não é essa!

Um simples retorno à Igreja Primitiva é um absurdo e uma armadilha. Os tempos são outros, estamos há dois mil anos de distância; o Movimento de Jesus não permaneceu estático na História. Em sua relação dialética, Movimento e Instituição se modificam, se reformulam. O Movimento é modificado pela realidade em cada momento histórico e em cada cultura, à medida em que a missão se realiza; da mesma forma, a Instituição. As exigências e desafios de cada tempo foram criando os paradigmas; alguns perduram, outros se restringiram a uma ou poucas gerações.

Assim, o máximo que podemos fazer é buscar compreender o início, sem querer começar de novo.  A revisão crítica da infância, aprendemos com a Psicanálise, não significa voltar a ser criança, mas ajuda o adulto reformular-se a partir de sua autocompreensão.

Também a Cristandade não existe mais; apenas reverbera (cada vez menos) na cultura e, muito forte, na mentalidade arcaica que ainda se mantém nos setores conservadores das igrejas.

Nos anos 70 do século passado, tive contato com o livro “O Fim do Cristianismo Convencional”[1], do  teólogo holandês Willem Hendrik van de Pol. O autor, através de detalhada análise da história do cristianismo, afirma o fim da Cristandade[2], e avalia o futuro da igreja no mundo secularizado. Esse livro marcou profundamente a minha compreensão da fé cristã ainda no tempo de seminarista e serviu como inspirador para a então Diocese Sul Central da Igreja Episcopal do Brasil[3], através da Comissão Central Executiva da Pastoral Diocesana (CCEPD), criada pelo Concílio Diocesano ao início do episcopado do Bispo Sumio Takatsu.

Então, podemos rever - com respeito e reverência – os paradigmas que vieram da Cristandade e questioná-los a partir da realidade do nosso tempo e dos desafios que se colocam para a confessionalidade cristã. Assim, podemos reinterpretar a vocação profética que fez surgir o Movimento de Jesus e a Igreja Primitiva sem perder a riqueza teológica que, de alguma forma, nos foi legada até hoje, inclusive pela Cristandade.

Não estou afirmando um meio termo! Estou afirmando a necessidade de reencontrar o Cristo em meio a um mundo transformado e transtornado, onde ainda permanece a dor, a injustiça, o poder da morte dominando a vida. Afinal, a Igreja de Cristo nasceu e sobrevive até hoje neste mesmo mundo e manteve firme o estandarte da Boa Nova, apesar de todos os tropeços.

Precisamos de uma nova Reforma, ou melhor, uma Nova Forma de entender (e ser) a Igreja; nova forma porque uma “re-forma” mantém a forma – quem  puder entender, entenda!

O reencontro com Jesus deve provocar a avaliação honesta sobre nossos modelos, não só de Missão, mas da própria Igreja.


[1] Van de Pol, W.H. – O Fim do Cristianismo Convencional. São Paulo. Herder ed. 1969.

[2] Willem Hendrik van de Pol nasceu em 1º de abril de 1897, em Nijmegen. Inicialmente, lecionou geografia em Zeist e estudou teologia e filosofia em Utrecht. Criado na Igreja Reformada Holandesa, também se envolveu desde cedo na Igreja Anglicana em Utrecht, onde recebeu a confirmação em 1919. Tinha grande interesse em liturgia e ecumenismo. Van de Pol se tornou católico romano em 1940, sendo ordenado sacerdote em 1944, mas mantendo estreita relação com o anglicanismo.

[3] Hoje, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e a atual Diocese Anglicana de São Paulo.

2 comentários:

  1. Heil! agora está chegando o molho di picadinho hehehe! O último parágrafo do artigo é provocador! Você vai mesmo falar em reformar a Igreja? tá maluco! Vai ser mais azedo que chucrute! Mestre, achei o livro do Van de Pol, em alemão! Achei aqui numa livraria. Comprei! Maas um dia vou comprar um livro seu! Beijo.

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  2. Você devia ler o original, em holandês! Sim! Vou falar em reformar a Igreja, aguarde. Não estou maluco não! Afinal, sou protestante, então concordo com os calvinistas: Igreja Reformada, sempre reformando. Se for como chucrute, então vai junto um Heiban (escrevi certo?) Já tenho um livro publicado, e vc já o tem. É um e-book, e são contos. Obrigado pela fidelidade com o Pirilampos...

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