10 de jul. de 2025

SOBRE MISSÃO - 6. Novas possibilidades: O Reencontro com Jesus

 Esta postagem é sequência das anteriores e faz parte de um texto maior, sobre MISSÃO; cujas partes estão publicadas aqui a partir de  9 de junho de 2025. O texto completo foi dividido em várias pequenas postagens para facilitar a leitura. Sugiro que você leia antes as postagens anteriores (a partir de 9 de junho) para ter a visão completa do conteúdo até o momento.

José Antonio Pagola, conhecido teólogo espanhol e sacerdote católico romano tem se destacado pela sua corajosa abordagem sobre Jesus. Dentre outros, seu livro "Voltar a Jesus: para a renovação das paróquias e comunidades"[1]  é uma corajosa proposta de renovação, no âmbito da Igreja de Roma. 

Cuidadoso, considerando-se o forte dogmatismo de sua denominação, Pagola se fundamenta na exortação apostólica "A Alegria do Evangelho" (Evangelii Gaudium)[2], do Papa Francisco I; assim, se coloca como intérprete do Papa, e propõe, com serenidade, mudanças de paradigmas, algumas apontando, de forma muito sutil, reformulações institucionais. 

Pagola, no meu entender, está propondo a retomada do Movimento de Jesus, desvinculando-o do peso institucional. Pagola é mais uma voz que se levanta para convocar um retorno ao Kerigma da Igreja Primitiva.

Penso que para um reencontro com Jesus é necessário voltar às Escrituras, despindo-as do peso da tradição teológica acumulada através dos séculos e, com coragem, começar a construção de nova hermenêutica a partir da exegese (isso vem acontecendo lentamente; por exemplo, através do CEBI – Centro de Estudos Bíblicos, uma organização que se propõe ecumênica). 

Além da hermenêutica bíblica, é preciso – ao mesmo tempo e sem medo – promover a releitura da Tradição à luz dos desafios da realidade contemporânea, deixando de lado – se necessário – as concepções bizantinas do passado, para uma resposta consistente com o contexto histórico presente, muito distante e distinto daquele no início da Cristandade. Não é uma tarefa fácil, nem produzirá resultados imediatos, mas será o início de um processo que, além de abrir novos caminhos para a Missão, dará bases para a nova catequese.

Isso seria muito complicado dentro do universo católico romano; por isso Pagura fica preso em um redemoinho. Mas este não é um problema para o protestantismo de raiz, que surgiu exatamente a partir de uma postura crítica revolucionária em relação à estrita dogmática escolástica. É bem verdade que, em menos de um século depois, surge a “escolástica protestante” – e o movimento da Reforma se institucionaliza fortemente.

 Mas, mesmo assim, os protestantes de raiz não têm compromissos rígidos com o chamado Magistério da Igreja; inclusive o anglicanismo que, mesmo reconhecendo o valor do Magistério, não abre mão da Razão como instrumento de análise e crítica.

Reencontrar Jesus é reencontrar sua praxis. Como Jesus atuava em seu ministério?

Exceto com os dogmáticos religiosos de seu tempo, Jesus não se metia em discussões teológicas; quando o fazia, era direto e incisivo, quebrando as regras e as tradições acumuladas pela religião formal. 

Mas sua relação com as demais pessoas era sempre acolhedora, misericordiosa e empática, sem preconceito e sem impor condições prévias. Isso é notório, por exemplo, no Evangelho de João, que relata vários encontros de Jesus com pessoas de diferentes categorias. Em tais encontros, Jesus se revela em sua absoluta humanidade e divindade.

O Movimento de Jesus, que surge a partir do seu grupo íntimo, acontece exatamente através do encontro com as pessoas: os seguidores de Jesus o apresentam não como um soberano absoluto, mas como um amigo próximo, o Senhor humilde que veio para servir; o Salvador do Mundo (cf. João 4.42 ) e não de um único povo.

É importante reconhecer que, mesmo sendo redicalmente crítico, Jesus não deixava de estar na instituição religiosa: frequentava e pregava nas sinagogas, visitava o templo, não fugia dos temas teológicos com os profissionais da religião, mas invertia os significados: estas coisas foram feitas para o ser humano e não o contrário (por exemplo, Marcos 2.27).

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[1] Pagola, José Antonio – VOLTAR A JESUS: para a renovação das paróquias e comunidades. Petrópolis, RJ; Vozes, 2015.

[2]   Datada de 24 de novembro de 2013.

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2 comentários:

  1. Se bem conheço você, começo a desconfiar que você está, lentamente (e cuidadosamente) propondo uma reinvenção do Cristianismo! Aqui onde vivo, nas idas e vindas entre Alemanha e Holanda, a onda nas igrejas é a comemoração dos 1700 anos do Concílio de Nicéia. Igrejas vazias festejando o aniversário delas mesmas (rsrsrs). Cuidado, maninho! Você vai entrar na toca do leão, sem vara! Mas, se o leão te comer, vai ter indigestão rsrsrsrs.

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    1. Na verdade, não se trata de reinventar o cristianismo, mas de repensar o que é relevante para a missão. No horizonte que vislumbro, está a necessidade de repensar o conceito de missão e - ai sim - de uma eclesiologia onde cada comunidade de fé seja a articuladora da missão, não a instituição eclesiástica. Há novidades acontecendo por ai, uma nova visão do significado de igreja além da formalidade institucional.

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