21 de nov. de 2015

Pós-modernidade e Fé Cristã (I)

Society-of-the-spectacle
Não é fácil ser cristão nestes tempos pós-modernos.
Hoje as pessoas consomem  “produtos personalizados”, de forma hedonista e visando essencialmente sua auto-imagem – narcisismo exacerbado! Iludidas com a ideia de uma pretensa “liberdade de escolha”, não percebem que a tecnociência, através dos meios mediáticos, programam todo o comportamento social em seus mínimos detalhes: desde o que é “certo” vestir e usar, até o “pensar”.
Não existem paradigmas, ou escala de valores. O indivíduo se torna fim em si mesmo, perde sua percepção social e seu horizonte histórico. Perde sua identidade à medida que necessita fazer um “self” a cada instante para dizer a si mesmo e aos outros quem é.
O sujeito hoje tem sua identidade fragmentada (esquizofrênica?); ele bebe a cerveja “X” (um “self” na rede social informa isso); come “sushi” no restaurante “Y” (outro “self”), faz compras na superloja “Z” (outro “self”), vai à praia “H” (outro “self”), quintas-feiras está na balada “R” (outro “self”), e seu filho fez cocô no colo da vovó pela primeira vez (um “self” com a criança e a fralda suja ao lado, no colo da avó constrangida)… e assim vai! O sujeito sente então que existe, que é alguém e que está por dentro de tudo; ele mede isso pela quantidade de curtidas que suas postagens recebem na rede social. É um sujeito inserido e atual. Vive feliz até a próxima crise de vazio (em cinco minutos) por falta de consumir alguma coisa e dizer para todo mundo que consumiu. 


Não é a toa que a Organização Mundial de Saúde prevê a Depressão como a maior epidemia global dentro de uma ou duas décadas, para a alegria dos laboratórios multinacionais que manipulam as drogas antidepressivas. Ou então, não duvido de nada, é bem possível que a mídia venha, com o tempo, apresentar as vantagens da depressão, insuflando assim o consumo de “turismos antidepressivos” e então milhares de selfs serão postados mostrando sujeitos curtindo sua depressão fazendo turismo em algum shopping no Oriente, comprando tudo que lhes é desnecessário, mas paliativos para a depressão epidêmica.
Melhor comprar que viciar em remédio”, vai dizer dona Maria de Tal, microempresária (faz coxinha de frango para festas), 35 anos, mãe de dois filhos (um adotado), à entrevistadora da Globo, contando que comprou seu turismo antidepressivo em 25 pagamentos sem juros no cartão – que aliás está em atraso, e por isso ela está deprimida.  Com certeza, o PT vai criar o programa Bolsa Depressão, afinal fluoxetina, bupropiona e escitalopram é direito de todo cidadão brasileiro. Claro que a direita vai protestar, afirmando que depressão não é coisa de pobre, e que, portanto, tem alguma jogada eleitoreira no lance… Porque os pobres não têm depressão, têm tristeza e frustração porque não podem comprar, e é bom que a polícia fique atenta porque vão querer assaltar…
Seja como for,  fato é que hoje vive-se de simulacros; abstrai-se a realidade que é transfigurada pela mídia, vive-se da fantasia e da vontade manipulada disfarçada de liberdade. Não há mais inteligência nem imaginação. Não se distingue verdadeiro do falso, vive-se do “achismo” onde todo mundo se sente do direito de proferir as verdades que “acha” serem verdadeiras e enchem de merda as redes sociais.
O volume de informação é enorme e, na verdade, vazio, pois a informação é tratada como mercadoria, que se consome.  Janta-se e assiste-se , com muita naturalidade  terroristas cortando cabeças na TV, e depois decide-se mandar umas garrafas de água para Minas Gerais, coitados, por causa do “acidente” das barragens de lama (mas tem de ter um lugar perto para recolher as ofertas, se não vai dar muito trabalho). 
De fato, não é fácil ser cristão hoje em dia. Aliás, algum dia foi? Fica fácil quando se vive o simulacro da fé expresso através do consumismo religioso – a fé como mercadoria, a graça deixando de ser graça para ser comprada e consumida!
Deus tenha piedade de nós!
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4 comentários:

  1. Saudades meu amigo.
    Obrigado por partilhar, é isso, é o que temos visto, lido, esse é um diagnóstico, o retrato nosso ocidental, nos reata saber o que podemos fazer como semear a mudança, se é que pode haver. Persistiremos. Haverá.

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  2. Excelente texto, Mestre! Como sempre! Amei o texto. Você está certíssimo...
    Um grande abraço. Saudades, meu amigo!!! Caetano

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