29 de dez. de 2014

O Logos (o Verbo) e a Festa de Mamona

jesus nascimento
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela. […] O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.” (Ev. de João 1.1-5, 10-14 – Almeida, R.A.)

“Verbo”: do Latim, Verbum (= palavra); do Grego, Logos (λόγος), palavra. No grego, significa a palavra escrita ou falada; mas os filósofos gregos, com o tempo, estenderam o significado tendo o Logos como a razão ou o princípio de beleza e de ordem cósmica: a própria essência do universo.

No Evangelho de João, os manuscritos mais antigos, em grego, dizem “No princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus, e o Logos era Deus” (1.1), (em grego εν αρχη ην ο λογος και ο λογος ην προς τον θεον και θεος ην ο λογος).

Por isso, algumas edições contemporâneas da Bíblia adotam tradução mais literal e trazem “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus…”

O início do texto, “No princípio…”, recorda o primeiro capítulo do Gênesis, no Antigo Testamento: “No princípio, criou Deus os céus e a terra. […] Disse Deus: Haja luz; e houve luz. […]”. Deus fala (pronuncia a palavra! = Logos) e tudo se cria. Ou seja, o início do Evangelho de João nos remete à narrativa da Criação, onde é a Palavra de Deus que cria o universo!

[Astrofísica à parte, não estou tratando disso! estou falando de um texto! os idiotas logo vem perguntar se eu “acredito” no que diz Gênesis, e eu respondo “eu creio” (o que é diferente de “eu acredito”), mesmo quando eu atuava como físico lidando com galáxias distantes muitos milhares de anos-luz da Terra; e explico que o “Big Bang” ou qualquer outra teoria plausível não é, para mim, a Palavra dita por Deus! os idiotas, que buscam coerência racional em tudo e não têm sensibilidade sequer para poesia, não entendem e fica por isso mesmo!]

João identifica essa Palavra Criadora com o Cristo de Deus, o Logos Encarnado: “E o Verbo (Logos) se fez carne e habitou entre nós, … ”!
Problemas exegéticos e hermenêuticos à parte – deixemos isso para os “nerds” da Teologia, quero focar o texto de João 1.1-14 na perspectiva da minha fé e, a partir dai, olhar a realidade ao meu redor. Neste terrível tempo natalino, ler João é uma excelente vacina contra a hipocrisia generalizada que nos assalta a cada instante.
 
No sermão de Natal em minha paróquia (São Paulo Apóstolo, Santa Teresa, Rio de Janeiro) eu disse que “… dezembro é o mês mais estressante e hipócrita do nosso calendário…”. É, de fato, um mês terrível: tudo fica muito complicado, a vida urbana se torna uma sucessão de aporrinhações e as pessoas se estressam por causa das “festas”, com a obrigação imbecil de “dar presentes” (e com a terrível esperança de “ganhar presentes”). O consumismo de inutilidades sobe exponencialmente, e a hipocrisia alimentada pela mídia inspiradora do consumo, caminha com toda a liberdade entre nós.

Aquela rede de TV de índole diabólica, coloca no ar aquela música totalmente insonsa de conteúdo raso, “Hoje é o novo dia de um novo tempo que começou…” , para em seguida anunciar o mesmo de sempre… e os jornais e toda a imprensa estão ai para dizer que não há novo dia algum, novo tempo algum, e que “tudo está como antes no quartel de Abrantes!”
 
A massa populacional se estressa nas “compras” e hipocritamente todas as pessoas se tornam boazinhas, de coração aberto, desejando “feliz Natal e feliz ano novo” até àquelas pessoas que passaram o ano odiando e tratando mal (e vão continuar fazendo isso no tal “novo ano”!). O décimo terceiro salário vai embora pelo ralo da futilidade, e a dívida do crediário, do cartão de crédito, se torna presente no decorrer do novo ano… que não será feliz… porque será sempre igual… e o comércio reclama que as vendas caíram em relação ao ano passado, e a culpa é da Dilma por causa da Petrobrás…

Assim, o Natal, que se originou de uma festa pagã celebrando o Sol Vitorioso – marcando o Solstício de Inverno do hemisfério Norte, incorporada pela Igreja desde sua antiguidade justamente porque entende Jesus Cristo como Sol da Justiça e Luz do Mundo – continua sendo uma grande festa pagã!
 
Eu acho profundamente cômicos os tais votos natalinos e de ano-novo, especialmente um que é muito usado: “Muita paz, alegria, prosperidade, saúde… saúde é que é importante, não é verdade? porque tendo saúde o resto a gente luta pra conseguir…” (apesar do SUS!) – como a gente sabe que paz, alegria, prosperidade é alguma coisa que pouca gente consegue, por mais que lute, então se insiste na saúde como prêmio de consolação…(afinal, o sistema não pode permitir que todo mundo se dê bem, porque o sistema é para que alguns se deem muito bem à custa do resto).

Para disfarçar o caráter mundano do tempo natalino, praças, lojas, bancos e até a cadeia pública, exibem presépios onde um bebê loiro de olhos azuis, com jeito de idiota, cercado por uma mulher com cara de inocente e um velho abismado, todos devidamente caucasianos, tendo em volta um burro, uma vaca, algumas ovelhas e alguns pastores palestinos brancos (uns até de olho azul)… O Presépio, ideia do Pobre de Assis para reviver simbolicamente o Nascimento do Cristo com os seus pobrezinhos e leprosos, o Presépio exibido nos templos de Mamona, de Baal, onde o sangue é exaurido através do consumo histérico! Isso sem contar a figura do São Nicolau, travestido de velhinho bondoso com roupa inspirada na Coca-Cola, patrono das compras absurdas…

Nas redes sociais, pessoas demonstrando um elevado nível de consciência, querem lembrar a todos do “Aniversariante”… mas acabam na mesmice dos votos vazios e das palavras enjoativas de tão doces…

Quase ninguém se recorda, na verdade, que o Logos veio habitar entre nós, que há uma Luz brilhando nas trevas (e não é a estrela do topo da árvore de natal)… como disse João, já naquele tempo, como no tempo de agora, “O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”.

O Logos, o Cristo, o Senhor do Universo, ali, na fragilidade de absoluta dependência de uma criança recém nascida… cheio de graça e de verdade! Ele se rebaixa ao totalmente humano, para que o humano não se separe mais do absolutamente Divino (cf. Filipenses 2.5-11)! Deus conosco sempre (Emanuel)!

Por isso, eu dou mais importância à Festa da Anunciação, quando de fato se celebra o Logos se tornando carne em Maria. Pelo menos, ninguém vai me cobrar um presente nesse dia, nem vai ter de se aporrinhar para me dar um presente… Nem temos de hipocritamente desejar felicidade a todo mundo… Quero apenas celebrar o que tento ser: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.”

Nos versos do Flávio Irala, ost , agora Bispo na Igreja de Deus (que Deus seja misericordioso e o inspire!), a única razão para celebrar o Natal é que:
“O cativeiro ficará apenas na memória / Dos homens de boa vontade, numa nova história, / Pois um dia uma estrela caiu num curral:/ É Natal! É Natal!”(Nova Canção de Natal, Flávio Irala)
O resto… é mera idolatria, ideologia… e, claro, hipocrisia!

“Feliz Ano Novo”, se é que isso faz algum sentido para você!

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29 de mar. de 2014

Civilização da Idiotice (um desabafo politicamente incorreto, graças a Deus, sem qualquer prudência literária!)

Estado idiotizadorGrande parte da população ocidental (não tenho conhecimento ou experiência suficiente para analisar a população oriental)  é composta por gente idiota, pessoas que agem sem pensar; que, pela ignorância induzida, se deixam levar pelas mais vergonhosas formas de publicidade, convencidas, por exemplo, que precisam comprar o último modelo de um simples telefone celular (que na verdade é muita coisa junta, inclusive telefone) para serem reconhecidas e respeitadas pelas outras pessoas idiotas que, por isso mesmo, debocham e manifestam seu desgosto porque alguém não tem o último modelo… que, até então não lhes fazia falta e realmente não lhes faz falta a não ser para ficarem “por dentro”… ou seja serem reconhecidas e acolhidas pelas outras pessoas  como “normal”, “atual”, “moderno”, “in”, … essas babaquices todas!

A economia capitalista necessita do consumo para crescer; o consumo, para se manter crescente e cada vez mais produtor de riqueza (que não é distribuída, mas acumulada por poucos), necessita de produtos que durem pouco, porque afinal a quantidade de consumidores não é infinita… ou seja, o mercado precisa que a gente re-consuma as coisas para se manter ativo… e por isso inventa necessidades que não temos para que pensemos que as temos (para isso serve a publicidade indutora de “valores de felicidade”) e com isso, consumir aquilo que nos convencem ser realmente necessário para sermos felizes! É mais ou menos isso que se chama “realidade líquida” (cf. Bauman).

A massa idiota se encanta com as “novas” tecnologias, que se apresentam no mercado como surgidas de forma mágica, do nada, massa muito admirada com a capacidade científica do Império… Na verdade, quando uma “nova” tecnologia surge no mercado, ela já está ultrapassada e com prazo contado para durar (hoje em dia, algo em torno de seis meses no máximo). 

Por exemplo, a NASA colocou os primeiros astronautas na Lua no início dos anos 60 do século passado, e isso foi possível porque já estava disponível (secretamente) uma tecnologia computacional em máquinas de tamanho reduzido, ou seja, um possante computador com a incrível capacidade de 16 Kb  que cabia nos menos de 10 m2 das cabines das naves espaciais das séries Mercury e Apolo1. Ou seja, o micro-computador, que só chegou ao mercado cerca de 30 anos depois, já existia quando se tornou consumível. Não chegou antes porque era considerado tecnologia militar e a Guerra Fria comia solta (os soviéticos, aliás, tinham uma tecnologia computacional muito avançada também, e não mandaram homens à Lua porque seus robôs eram muito mais eficazes, conseguiam pousar em terra firme e no ponto determinado previamente; além disso, conseguiram pousar em Vênus, onde os americanos quase sempre falharam). 

Nos anos 90 os Computadores Pessoais (PC’s, já que a gente adora anglicismos) duravam alguns anos; hoje a cada ano, no máximo, se tornam obsoletos, estão cada vez mais reduzidos e com maior capacidade (simplesmente para facilitar a interface humana, não para processar os dados). Caíram na gandaia do mercado… e lá vai a massa idiota consumir…

Uma das afirmações do tipo “auto ajuda imbecil” que se partilha e re-partilha aos milhares nas redes sociais (na verdade, o consumo de banalidades que gera milhões de dólares para a dita “indústria da informação”) é a afirmação de que somos responsáveis pelas nossas escolhas… e sofremos as consequências delas! Isso é totalmente idiota! Simplesmente porque, na maioria das vezes não temos escolha ou somos enganados, levados pelas mais sutis formas de indução e controle externo da vontade pessoal…

É fácil dizer que se fez escolha errada quando, na verdade, não havia escola pública de qualidade para que o pai pobre pudesse matricular seu filho; que opção ele tinha? Tanto que o Governo, para aliviar a consciência do Estado, cria normas imbecilizantes como aprovação compulsória nas escolas, quotas na Universidade para estudantes da rede pública e outros paternalismos que impedem o desenvolvimento de uma massa crítica na sociedade e de uma consciência cidadã.

Essa é a sutil maneira encontrada pelo “sistema de dominação” para nos manter na permanente sensação de culpa pelas mazelas que acontecem em nossas vidas e na própria sociedade, e aliviar-nos com o consumo de coisas realmente das quais não precisamos. 

A Culpa, aliás, tem sido a base da cultura ocidental devido à nossa herança trágica do mundo judaico-cristão utilizada de forma muito esperta pelas elites dominantes desde o Império Romano dito cristianizado (a famosa “cristandade”, ou seja, cristianismo de massa, e como tudo que é massa, plenamente maleável e ajustado, sem vontade própria). Sentindo-se culpado pela própria impossibilidade de viver com dignidade, o sujeito fica cego para a baderna política do toma-lá-dá-cá, e fica retido em um curral eleitoral com medo de perder as benesses do paternalismo estatal!

Pão e Circo era o esquema do Império Romano… hoje, o circo é eletrônico, o pão está envenenado pela indústria alimentícia  e é pouco! 

A culpa é sua por ter escolhido nascer; tá reclamando do quê?

Nota de Rodapé:
1 Note Bem: você acha que os astronautas eram capazes de pilotar uma nave, como se fosse um avião, movida à gravidade? a complexidade dos cálculos necessários e a velocidade que devem de ser feitos para conduzir a navegação adequadamente, estão além da velocidade de processamento do cérebro humano. Tanto que cada nave levava dois computadores exatamente iguais para em caso de pane em um, o outro continuar pilotando a nave em contato via rádio com os computadores em Huston.
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