O valioso tempo dos maduros
Mário de Andrade
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas: as primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral…
‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade...
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!
(vai ter algum/a idiota/o querendo brincar de Einstein ou grande filósofo/a, e me perguntar o que significa “essencial” e fazer um discurso pentelho sobre a relatividade do “essencial”)
De fato, é assim que me sinto: imerso em babaquices; egos inflados; gente que se melindra por qualquer coisa (baixa auto-estima); ignorantes que se acham cheios de conhecimento; esse pessoal que só fala em “direitos” e nunca em deveres; essa bobagem de “politicamente correto” que acabou com o bom humor (a gente tem de medir as palavras e até a forma de olhar para outrem); essa tal de inclusividade histérica que impede a possibilidade de ser crítico e me obriga a achar que tudo é bom, tudo pode… gente que me enche o saco por causa do meu cigarrinho mas entope meus pulmões com os gases mortais de seus automóveis… moralismos idiotas sem fundamento ético.
Mas, pelo menos, ainda tenho amigos e amigas (politicamente correto, viu pentelhada) inteligentes, sinceros, solidários, que sabem a diferença entre bom humor e ofensa, que me chamam de gordo e eu não me chateio com isso (eu sou! e não venha me encher o saco com o papo de colesterol, diabete, etc.)!
Estou lendo e, em alguns casos, relendo a vida de alguns cientistas (físicos e matemáticos) que foram fundamentais para o progresso da Ciência. E relendo sobre mecânica Quântica e Relatividade. Sabiam que é uma boa teologia???
Pois é, relendo a vida de Heisenberg – criador do Princípio da Incerteza – desta vez lendo sua auto-biografia baseada em memórias, fiquei a pensar em meus professores… por isso escrevi o texto em homenagem a eles (veja postagem mais abaixo). Que diferença a mentalidade acadêmica daqueles homens e mulheres que fizeram a ciência e a mediocridade da academia brasileira explodindo de egos vazios! (há exceções, e já sei que vão cair de pau em mim!). Grandes teses (mais de 150 páginas) de conteúdo vazio…
Uma das poucas exceções, a do meu amigo Rev. Dr. Antônio Carlos Ribeiro, sobre Diálogo Inter-religioso*, que me fez voltar a ler sobre Mecânica Quântica! o que tem a ver uma coisa com outra? boa pergunta. Passo a bola pro Antônio Carlos. Mas tem!!! Como eu disse, Mecânica Quântica e Relatividade produzem boas teologias!
(antes que perguntem “quem sou eu para fazer tal juízo sobre a Academia Brasileira”, já vou respondendo: “Sou ninguém!” – e ai gostaria que lessem um texto de Gil Vicente, chamado “Todo Mundo e Ninguém”, lido por mim no Científico durante o curso de Língua Portuguesa do Prof. Manuel Pereira do Valle no Colégio São Luís, em São Paulo, por volta de 1966/67.)
Esse estudo que tenho feito, até mesmo para me livrar do estresse, retornando de forma mais amadora à Física e à Matemática, tem acirrado minha reflexão teológica nestes tempos de inclusividade a qualquer custo, cristologia pobre, eclesiologia desgastada e pouca espiritualidade (já disse, sou pietista! eu disse pietista, não petista!).
Eu tenho refletindo sobre o Princípio da Incerteza e as ideias de Complementariedade do grande Niels Bohr. Do ponto de vista matemático, coisas complementares são mutuamente exclusivas… Então, a Mecânica Quântica, utilizando a noção de terceiro incluído, liquida com a lógica aristotélica dualista e permite a coexistência de complementares dentro de uma mesma teoria! Os teólogos da inclusividade deveriam ler mais Mecânica Quântica e menos Sociologia da Mesmice! Talvez se dessem conta que é a percepção da Diversidade que nos ajuda a ser inclusivos e não elucubrações morais sem se aprofundar em novos paradigmas éticos; estes sim serão decorrentes da percepção ampla do que significa diversidade! Complementariedade não é colocar tudo no mesmo saco!!! Inclusividade é perceber que não se precisam de tantos sacos, aliás, significa que ninguém fica dentro do próprio saco.
Foi exatamente usando esse conceito de terceiro incluído que consegui organizar na minha cabeça e no meu coração as Ciências Naturais e a Fé.
Bem, esse artigo já está por demais confuso… não é um desabafo simplesmente, mas uma tentativa de lidar com a incerteza que os tempos de hoje andam provocando. Então, vou encerrar!
Encerrado!
* RIBEIRO, Antônio Carlos S. , ECLESIALIDADE E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO: as igrejas cristãs e a experiência salvífica, a partir dos novos paradigmas teológicos na América Latina. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro, Depto. de Teologia, Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUC-Rio, 2009.
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Maninho, como não entendo nadinha de Mecânica Quântica e essas outras coisas da Física, fiquei sem entender muito bem, mas percebo que vc continua indignado com algumas coisas... eu também! rsrsrsrs.
ResponderExcluirEu compreendo que quando vc fala em Diversidade, ai está incluída a Inclusividade. Acho que o problema é que se dá muita ênfase a uma determinada inclusividade que é justa, mas que se torna "bandeira vanguardista" no mau sentido.