19 de nov. de 2009

Ainda a falta de ética do Vaticano...

Para os que estão acompanhando o caso, quero propor uma visita ao site do Instituto Humanitas da UNISINOS. Pesquise internamente o tópico "Anglicanos" (busca no site).

Em especial, quero destacar a entrevista do meu grande amigo Prof. Dr. Rev. Zwinglio Mota Dias sobre o tema: clique aqui!

Note bem: é na revista do Instituto Humanitas, da UNISINOS, uma universidade de origem católica-romana. Essa dica me foi passada pelo Prof. Dr. Marcelo Barreira, da Faculdade de Filosofia da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), que é episcopal-anglicano.

Boa leitura!
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14 de nov. de 2009

É bom lembrar...




Vale a pena ler os comentários que estão no YouTube sobre este vídeo! Muito interessante! Nota-se sempre o mesmo discurso de defensiva (ignorância sobre a História da Igreja, entre outras coisas).
No mínimo é divertido!
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13 de nov. de 2009

Obrigado, Bento XVI

autor: Rev. Carlos Eduardo Brandão Calvani
Presbítero (padre) da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
Doutor em Teologia

Conforme um dito popular, “Deus escreve por linhas tortas”. Nunca parei para refletir mais profundamente sobre esse ditado. Mas sempre o escuto e, provavelmente, também já devo tê-lo repetido uma ou outra vez na vida.

Devo confessar que, nos últimos dias, esse ditado reapareceu em minha memória, por conta de todas as discussões sobre a mais recente artimanha do Vaticano, de criar uma provisão especial para receber na Igreja Romana anglicanos dissidentes e insatisfeitos. Graças a Deus nunca fui católico-romano e não tenho qualquer compromisso de ser bem educado para com Ratzinger - sempre o considerei um (mesmo antes de ser Papa), um teólogo “torto”, mais preocupado com a restauração do passado do que propriamente com a construção do futuro. Mas Deus, em sua insondável sabedoria, pode até mesmo usar caminhos tortos. Lá no Antigo Testamento, até uma mula (ou jumento) poderia ser porta-voz dos desígnios divinos...

Sei que, ao escrever isto, correrei o risco de ouvir de alguns colegas: “você precisa ser mais polido... você ofendeu o papa...”. A estes eu respondo: “onde está nossa auto-estima? vamos continuar oferecendo a outra face e quantas partes mais do corpo quiserem para nos agredir? Que masoquismo eclesiástico é este?” Bem mais ofendidos ficaram muitos anglicanos, inicialmente. Alguns anglicanos como eu, também já ficaram bastante constrangidos em reuniões ecumênicas (participei durante um tempo da Comissão Teológica do CONIC) e poderia citar, se o espaço fosse maior, exemplos do constrangimento pelo qual passamos diante do peso e da pressão da Igreja Católica Romana para que aprovemos aquilo que interessa a eles.

Agora, em 2010 teremos Campanha da Fraternidade “Ecumênica”. Confesso que, particularmente, não tenho qualquer interesse em colaborar ou participar de uma campanha em que as demais igrejas (pequenas, coitadinhas), são usadas para render frutos à Igreja Católica Romana. Gostaria de saber mesmo, quando é que a organização da “Campanha da Fraternidade Ecumênica” apoiará e defenderá uma proposta feita por mim mesmo, de que um dos temas mais urgentes a tratar, nacionalmente, é a questão da pedofilia. Quando eu disse isso, em reunião da Comissão Teológica do CONIC, fui ignorado. A única reação que percebi foram alguns sorrisos desconfortáveis, como se eu estivesse querendo ironizar ou cutucar onça com vara curta... Minha proposta sequer foi discutida. Depois alguns padres amigos me disseram: “A Igreja Romana nunca irá abordar esse tema...” 

Li o texto oficial do Vaticano, ouvi e li também algumas opiniões e cheguei até mesmo a provocar o querido colega Rev. Luiz Alberto Barbosa, secretário-executivo do CONIC, para saber se esse organismo iria emitir algum pronunciamento condenando a medida. Hoje, porém, dou meu braço a torcer e minha mão à palmatória, porque estou chegando à conclusão que a jogada política do Vaticano, apesar de ser um golpe baixo (digno de seus redatores) e que põe ainda mais cimento no caixão do falecido ecumenismo institucional, pode ser encarado como uma provisão abençoada para a Comunhão Anglicana.

Um querido bispo da IEAB enviou-me um email dias atrás, lembrando que vivemos o primado da perversão em todos os segmentos, e que mesmo as igrejas não escapam disso. As atuações perversas, diz ele, estão sempre escondidas por traz do biombo de belas palavras, versículos bíblicos e citações de teólogos antigos. E a utilização desses recursos pelos perversos, lhes proporciona um gozo imenso.

Lembrei-me também de um pequeno poema, do extraordinário poeta português Guerra Junqueiro (1850-1923). Embora dirigido, especificamente aos jesuítas, pode aplicar-se também a outros que, mesmo não sendo jesuítas, se identifiquem com o atual papado:

Ó Jesuítas, vós sois dum faro tão astuto 
Tendes tal corrupção e tal velhacaria 
Que é incrível até que o filho de Maria 
Não seja inda velhaco e não seja corrupto 
Andando a tanto tempo em tão má companhia

Pelo que entendi da “Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus” (este é o pomposo nome oficial), a Igreja Romana está abrindo as portas para receber diáconos, presbíteros ou bispos anglicanos “como candidatos às sagradas ordens na Igreja Católica”. Ou seja, os anglicanos que debandarem para lá, não terão suas ordens reconhecidas e deverão ser “reordenados”. Os que forem casados devem observar algumas normas da época de Paulo VI, enquanto os não-casados devem ater-se ao celibato. Mais à frente, o documento diz: “o ordinário... admitirá somente homens celibatários à ordem do presbiterado”. 

A situação mais cômoda é para os padres que foram ordenados na Igreja Católica Romana e que foram recebidos (sem reordenação) na Igreja Anglicana. Esses, se forem celibatários, podem voltar e serão recebidos como “filhos pródigos”. Se forem casados, porém, a situação será um pouco mais complicada, mas ainda assim terão seu espaço garantido junto ao trono de São Pedro para comer das migalhas que caem da mesa papal.

Mas, no frigir dos ovos, a provisão do Vaticano se transformará em uma bênção para a Comunhão Anglicana. A ela atenderão os clérigos e bispos com vocação inquisitorial, que sentem cheiro de heresia em qualquer palavra ou em qualquer texto; a ela atenderão os clérigos e bispos machistas, que não suportam ver uma mulher de batina; a ela atenderão os romanistas disfarçados, que sempre reclamam o fato de as igrejas da Comunhão Anglicana não terem uma autoridade central, mas uma autoridade dispersa; a ela atenderão os recalcados que desconfiam de qualquer ação pastoral que contrarie os cânones da ética sexual romana.

Estes, que atenderão à oferta do Vaticano, realmente não se sentem confortáveis nas igrejas da Comunhão Anglicana. Parodiando a 1ª epístola de João, eu diria - “estes saíram do meio de nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco”.

Por isso, tudo, devemos agradecer a Bento XVI e a seus assessores, pelo bem que proporcionaram à Comunhão Anglicana.

Que Deus lhes retribua em porções dobradas todo o bem que nos fizeram.
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Publicado com autorização do autor.
Concordo com tudinho que está aí escrito. Gostaria de ter escrito este texto e agradeço ao Rev. Calvani a permissão para colocar este artigo no meu modesto blog. 

Arreda Bento! xô! Tá amarrado! xô!
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9 de nov. de 2009

Minha visão de ecumenismo

Ecumenismo é ação entre pessoas de boa vontade e de diferentes religiões e culturas; não é resultado de "diálogos" institucionais, nem acontece através de "acordos" entre instituições, porque o Povo de Deus não é uma instituição.

Ecumenismo é mais que "diálogo"! Ser ecumênico é reconhecer que a infinitude de Deus - a Sua Transcendência - é muito maior que nossa capacidade de compreendê-La, e se revela como bem quer. Ser ecumênico é, essencialmente, reconhecer nas diferenças, as muitas faces do Ser Altíssimo, e - com ações de boa vontade e cooperação - manifestar a Paz e a Misericórdia.

Demonizar o diferente é dar aos "poderes das trevas" mais força do que realmente têm, é colocar em Deus uma limitação de identidade... a nossa própria!

Deus nos criou diversos, e fez do universo a diversidade, para que o conjunto revele que Eles (Ele/Ela) habitam em comunidade (que nós, cristãos, chamamos de Trindade).

(este texto é de minha autoria; não culpo ningém por ele; é meu ponto de vista depois de 40 anos como militante no movimento ecumênico, inclusive no ecumenismo institucional - já pensei diferente...)
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7 de nov. de 2009

A IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASIL SE PRONUNCIA

A Secretaria Geral da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil distribuiu o seguinte comunicado à Igreja:

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Dada a repercussão da recente medida do Vaticano de adotar uma provisão que acolha anglicanos dissidentes dentro da Igreja da Inglaterra, nosso Primaz, em consulta com bispos e Comissão Especial, torna pública essa palavra como orientação a respeito da matéria.

Solicitamos divulgá-la amplamente por toda a Igreja.

Recebam meu abraço e minhas orações por suas vidas e ministérios!
Rev. Con. Francisco de Assis Silva
Secretário Geral da IEAB


O anúncio feito em 20 de outubro pelo Vaticano, de criar uma provisão constitucional especial para acolher anglicanos descontentes com a ordenação feminina e de pessoas homoafetivas, certamente representa um novo e inesperado patamar nas relações entre a Comunhão Anglicana e a Igreja Católica Apostólica Romana.

Ao longo de 40 anos, as duas Comunhões mantiveram um franco e profícuo diálogo desde a iniciativa do Papa Paulo VI e do Arcebispo Michael Ramsey de quebrar séculos de silêncio entre as duas partes. Viviam-se os ventos resultantes do Concílio Vaticano II, como uma era de avanço no diálogo e superação de indiferenças. Esse processo continuou ao longo das últimas décadas com a produção de documentos e a criação, em nível de Províncias (como a do Brasil), de comissões nacionais de diálogo anglicano-católico romano.

Damos graças a Deus por todo o trabalho construído em meio a muitas dificuldades, mas igualmente de mútuo respeito. Para isso contribuiu a capacidade de nos enxergarmos como irmãos que confessam o mesmo Cristo e a mesma fé credal, sempre buscado construir uma compreensão comum em torno de suas identidades teológicas. Neste espírito se produziram os documentos Autoridade na Igreja I (1976), Autoridade na Igreja II (1981), Comunhão Eclesial (1990), Vida em Cristo: Moral, Comunhão e a Igreja (1993), O Dom da Autoridade (1998), Maria: Graça e esperança em Cristo (2004) e Crescer Juntos na Unidade e Missão (2007).

Todas estas Declarações, e as ações conjuntas decorrentes delas, apontavam na direção de que cada vez mais nos aproximávamos do ideal da unidade que tanto Cristo desejou. Somos hoje parte de inúmeros organismos ecumênicos e nos aceitamos reciprocamente no Batismo – conforme Declaração Conjunta assinada no Brasil em 2007.

Ao dizermos que a iniciativa do Vaticano define um novo e inesperado patamar no diálogo bilateral, queremos afirmar que ela não tem direta relação com o processo acumulado ao longo dos últimos 40 anos, indicado acima, mas representa uma iniciativa unilateral, que certamente merecerá uma análise mais profunda. Indicativamente, enumeramos aqui dois elementos que merecem cuidadosa atenção: 

 - Os mais recentes documentos oficiais da Igreja Católica Romana têm reafirmado sucessivamente, não a sua identidade apenas como Igreja universal, mas sua singularidade como sinal verdadeiro e original da presença de Cristo entre os povos. Isso implica em uma auto-compreensão de exclusividade eclesiológica e organizacional que dificulta o avanço do diálogo entre as duas Igrejas;

- O substrato teológico para a iniciativa do Vaticano se baseia na compreensão de que a unidade da Igreja se dá tendo como referência o postulado do ministério petrino. Tal postulado necessita ser compreendido na conjugação entre sua dimensão teológica e a realidade histórica da sé de Roma e até esse momento não é ponto pacífico no diálogo anglicano-católico romano.

Evidente que estas questões precisam ser confrontadas com honestidade e amplo diálogo que, sempre, de nossa parte, marcaram comprometida e respeitosa atitude.

Expressamos nossa preocupação com a iniciativa desencadeada por Roma, levando em conta aspectos como seu método e conteúdo.

Lamentamos que nenhuma instância oficial da Comunhão Anglicana tenha participado do processo de construção da provisão anunciada pelo Vaticano. Inclusive, para surpresa de muitos, a própria Congregação para a Unidade dos Cristãos não participou do processo interno, em Roma, sequer para o anúncio da iniciativa.

Um assunto conduzido assim, privadamente e sob a coordenação da Congregação para Doutrina e Fé, ou seja, tratado no nível especificamente doutrinal e sem nenhuma relação com a sua dimensão ecumênica exigiria, no mínimo, a transparência que seria de se esperar entre duas Igrejas que dialogam ecumenicamente.

Se a provisão fosse destinada às pessoas que já saíram da Comunhão Anglicana por razões de divergência teológica, certamente isso seria entendido como acolhimento pastoral a quem já não seria pastoralmente mais de nossa responsabilidade. Mas, na medida que se destina a pessoas e comunidades que ainda estão dentro da Comunhão, mesmo que em dissenso, a provisão representa um problema ético de interferência em assuntos internos de outra Igreja irmã.

Esperamos, com muita honestidade, que essa interferência não venha se constituir em empecilho para o futuro de nosso diálogo e que possamos em tempo conhecer o teor da referida provisão – que ainda não é pública – e aplicar, quando possível, o princípio do respeito à autonomia interna de nossas Igrejas. A conversa que haverá entre o Arcebispo de Cantuária e o Papa Bento XVI nos próximos dias, em Roma, poderá apontar contornos mais claros para essa iniciativa. Aguardaremos essa conversa que representará o primeiro diálogo face a face entre os representantes máximos das duas Igrejas.

Em nosso contexto de Brasil, temos recebido e acolhido clérigos oriundos da Igreja Católica Romana, e temos acolhido essas pessoas como irmãos que desejam responder a sua vocação e chamado na missão, que é de Deus. A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil mantém um Cânone específico para esse acolhimento e reconhecemos as Ordens Sagradas de cada um, sem nenhum novo processo de ordenação.

Esperamos que esse assunto seja discutido com muita autenticidade dentro das instâncias de diálogo internacionais e locais de nossas duas Igrejas, e restaurando-se o teor do processo já trilhado, na busca de se superar mal entendidos e retomar o caminho da busca da Unidade tão desejada por Cristo e sonhada por todos nós!

Brasília, 04 de novembro de 2009  William Temple (1881-1944)

D. Mauricio Andrade
Bispo Primaz da IEAB.
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O meu querido Primaz e irmão, Dom Maurício, assim como meus demais Pais em Deus, ainda alimentam a esperança de que as relações ecumênicas sejam preservadas. Fico feliz que meus Bispos pensem assim, mas lamento dizer que, desta vez, eu não consigo viver essa esperança... pelo menos em relação à Igreja de Roma enquanto a Santa Sé estiver dominada pelos fundamentalistas dogmáticos. Meus 40 anos de movimento ecumênico me ensinaram que não se deve confiar em instituições onde o absolutismo domina.

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4 de nov. de 2009

Sobre a Igreja Romana e católicos-romanos

Apenas para esclarecer: no meu artigo abaixo, onde realmente eu desço o cacete na Igreja Romana - e ainda tenho muita coisa pra falar sobre essa instituição hipócrita - é contra a Instituição Eclesiástica da Igreja Romana que falo, contra sua alta-hierarquia, sua situação de Estado (que vive a custa de investimentos não muito claros - veja-se registros históricos das relações com a Mafia, com o Nazi-Facismo, e o escândalo - já esquecido - do golpe bancário aplicado na Itália... ). Nada contra as pessoas simples que vivem sua fé cristã no seio do romanismo. Nem contra os inúmeros sacerdotes, religiosas e religiosos que dedicam suas vidas ao serviço do Povo de Deus naquela imensa fazenda do Senhor. Nada contra o eclesial; minha crítica é e sempre será ao eclesiástico, a mesma atitude que tenho muitas vezes, para com a própria Igreja a que pertenço.

Tenho muitos amigos e amigas católicos-romanos, muitos padres e freiras, e deles sempre escuto suas lamentações, pois não podem nem mesmo tratar disso (lamentações em relação à sua Igreja) com seus confessores... Admiro muitos líderes da Igreja de Roma, reconheço o inspirado trabalho que homens como Dom Pedro Casaldáliga, Dom Mauro Morelli, e muitos outros, fizeram e fazem ainda em benefício dos excluídos neste país, verdadeiras testemunhas proféticas de Jesus, o Cristo.

Então, aos amigos romanos que já manifestaram sua solidariedade e sua indignação diante das ações recentes do Vaticano, fica aqui meu testemunho de amizade fraterna em Cristo. Muitos me escreveram diretamente, pois não podem arriscar-se colocando um comentário nesse meu blog lido por menos de uma centena de pessoas...

Onde não há liberdade de opinião e de expressão, não há liberdade!

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2 de nov. de 2009

Hans Küng revela o que está realmente ocorrendo!

Eu acho que a grande jogada da Igreja de Roma em atrair os anglicanos descontentes tem muito mais a ver com geopolítica que com teologia. De certa forma, a Igreja de Roma precisa chamar a atenção do mundo, até porque tem perdido espaço (e gente) para outras confissões cristãs, além de prestígio internacional pelo retrógrado posicionamento que sempre toma diante das grandes questões do mundo contemporâneo - a sexualidade, biologia, etc. (que saudades de João XXIII...)

Por outro lado, SS Bento XVI não tem nem 10% da simpatia e empatia com a mídia que teve seu antecessor, o Papa João Paulo II, que - pelo menos - sabia ser um reacionário simpático!

O conhecido teólogo católico-romano Hans Küng se pronunciou a respeito da tentativa romana de desestabilizar a Comunhão Anglicana:

"Teólogo critica duramente ao papa e Vaticano contesta realidade de argumentos

Cidade do Vaticano, 28 out (EFE).- O teólogo dissidente Hans Küng criticou duramente seu antigo amigo Bento XVI por haver aberto as portas aos anglicanos, afirmando que se trata de "uma tragédia", provocando uma resposta do Vaticano que disse que as acusações estão "muito longe da realidade".

Küng, de 81, em artigo publicado hoje nos diários "The Guardian" (Reino Unido) e "La Repubblica" (Itália), intitulado "Esse papa que pesca nas águas da direita", afirmou que a decisão de Joseph Ratzinger de acolher na Igreja Católica a todos os anglicanos que o desejem é uma "tragédia".

Segundo o teólogo suíço, se trata de uma "tragédia" que se une "às já ocasionadas (por Bento XVI) aos judeus, aos muçulmanos, aos protestantes, aos católicos reformistas e agora à Comunhão Anglicana, que fica debilitada perante a astúcia vaticana".

"Tradicionalistas de todas as igrejas, unir-vos sob a cúpula de São Pedro. O Pescador de homens pesca, sobretudo na margem direita do lago, embora ali as águas sejam turvas", escreveu Küng que acusa o papa de querer restaurar "o império romano, em vez de uma Commonwealth de católicos".

Segundo Küng, "a fome de poder de Roma divide o cristianismo e danifica sua Igreja" e o atual arcebispo de Canterbury, o chefe da Igreja Anglicana, Rowan Williams, "não esteve à altura da astúcia vaticana".

Para o teólogo dissidente, as consequências da "estratégia" de Roma são três: "o enfraquecimento da Igreja Anglicana, a desorientação dos fiéis dessa confissão e a indignação do clero e o povo católico", que veem - diz - como se aceitam sacerdotes casados enquanto se insiste de maneira "teimosa" no celibato dos padres católicos.

O diretor do jornal vespertino vaticano "L'Osservatore Romano", Giovanni María Vian, respondeu hoje que "mais uma vez, uma decisão de Bento XVI volta a ser pintada com rasgos fortes, preconceituosos e, sobretudo, muito afastados da realidade".

"Infelizmente Küng faz outra das dele, antigo colega e amigo com quem o papa em 2005, só cinco meses após sua escolha, se reuniu, com amizade, para discutir as bases comuns éticas das religiões e a relação entre razão e fé", escreveu Vian.

O diretor do jornal assegurou que Küng voltou a criticar seu antigo companheiro na Universidade de Tübingen (Alemanha) "com aspereza e sem fundamento".

O gesto do papa, segundo Vian, tem como objetivo "reconstituir a unidade querida por Cristo e reconhece o longo e fatigante caminho ecumênico realizado neste sentido".

"Um caminho que vem distorcido e representado enfaticamente como se tratasse de uma astuta operação de poder político, naturalmente de extrema direita", acrescentou Vian, que ressaltou que "não vale a pena ressaltar as falsidades e as inexatidões" de Küng.

O representante vaticano criticou as acusações vertidas contra o líder da Igreja Anglicana e expressou sua "amargura" perante este "enésimo ataque à Igreja Católica Apostólica Romana e a seu indiscutível compromisso ecumênico.

No último dia 20, o Vaticano anunciou a disposição do papa a acolher na Igreja Católica todos os anglicanos que o desejem e a aprovação, com esse objetivo, de uma Constituição Apostólica (norma de máxima categoria) que prevê, entre outras, a ordenação de clérigos anglicanos já casados como sacerdotes católicos.

No mundo são cerca de 77 milhões fiéis anglicanos e nos últimos anos sua igreja viveu momentos de crise e de forte divisão interna, devido à ordenação de mulheres e homossexuais declarados como bispos e a bênção de casamentos entre pessoas do mesmo sexo.

Por enquanto se desconhece o número exato de anglicanos que desejam rumar à Roma, embora segundo fontes do Vaticano esse número pode estar na casa de meio milhão, entre eles meia centena de bispos. EFE
Fonte: o texto acima é colagem do Portal G1 (Globo) e sua fonte é a Agência EFE.

Meio milhão de anglicanos indo a Roma??? talvez como turistas no verão italiano...

O segmento anglicano que quer ir para o "colinho papal" é uma minoria conservadora ultra reacionária na Inglaterra, e talvez em outras partes do mundo de influência anglo-saxônica. É o tipo de gente que não fará falta na Comunhão Anglicana, porque contraria a essência do "ethos" anglicano, que é a unidade na pluralidade.  Afirmar uma coisa dessas - meio milhão! - é uma atitude ufanista que revela o mau caráter do Vaticano e demonstra as intenções veladas de tentar desmoralizar uma Comunhão de Fé Cristã que tem atraído cada vez mais as inteligências católicas cansadas do reacionarismo, do autoritarismo e da intransigência de Roma para com as questões mais vitais da vida humana no mundo contemporâneo.

Não conheço, realmente não conheço, aqui no Brasil, um anglicano que tenha se tornado católico-romano; é bem capaz que haja um ou outro! Mas conheço mais de uma centena deles que nos últimos anos vieram para nosso convívio, inclusive muitos padres, solteiros e casados. E NÃO FORAM REORDENADOS, porque os anglicanos não negam as Sagradas Ordens Romanas, ao contrário de Roma que não nos reconhece e vai reordenar os que para lá forem... Aliás, não é de hoje que a migração de romanos para o mundo anglicano é grande. Eu mesmo, aos 19 anos, após me converter ao senhorio de Cristo no meio ecumênico, vim parar na Igreja Episcopal por conselho de um Bispo Romano que, mais tarde, veio a ser Cardeal em Roma e era amigo de minha família... ele me disse: "da forma como você pensa o mundo, você será muito feliz entre os anglicanos" e me deu uma carta de apresentação... E ele estava certo!

As Igrejas da Comunhão Anglicana têm a coragem de debater às claras questões como sexualidade humana, bioética, engenharia genética, etc... e ouviu o clamor das mulheres, trazendo-as (ou seria melhor lembrar, reconduzindo-as) ao sacerdócio cristão e ao episcopado, como outras confissões protestantes também já fizeram.  Nenhuma mulher anglicana sente culpa por tomar pílula anticoncepcional e estar pecando contra sua igreja, e uma pessoa homossexual sabe que não será desprezada - antes, será acolhida em nome de Cristo - numa comunidade anglicana. Clérigos (e não clérigos) anglicanos não precisam mais "ficar no armário" , ao contrário de muitos padres (e não padres) romanos... (pergunta ai para quem foi seminarista e desistiu!!!). Clérigos e clérigas anglicanos podem usufruir do convívio familiar, ter sua companheira ou companheiro de vida (e se separar se não der certo - foi eterno enquanto durou!), ver seus filhos crescerem e se tornarem adultos, ao contrário de muitos padres que têm "sobrinhos" ou têm de sustentar uma "prima que ficou grávida e é pobre"...  Conheço muitas histórias assim; não vou revelar porque as ouvi sacramentalmente. Santa hipocrisia! No anglicanismo há espaço para masculinidades e feminilidades! No anglicanismo há espaço para se ser humano e ter-se sua prórpia identidade!

Muita gente não consegue conviver com isso: pluralidade, autoridade dispersa, antidogmatismo... então, que sigam seu caminho, busquem seu rebanho e se for Roma, que seja! Sigam com a paz de Deus e deixem-nos em paz também!

Como todo bom católico-romano, Hans Küng não conhece bem a organização das outras igrejas cristãs, segundo o que reporta a reportagem da EFE: o Arcebispo de Cantuária não é Chefe da Igreja Anglicana. Não há chefe na Igreja Anglicana, além de Cristo. Ao contrário do Papa, o Arcebispo de Cantuária não é infalível, e é apenas o símbolo da unidade na Comunhão Anglicana. Na Inglaterra ele é também o Chanceler do Rei, ou seja quem guarda o selo real após a morte do rei até a coroação do sucessor. Mas não é Chefe da Church of England (a qual é dependente do Parlamento Britânico!). Sua autoridade é moral e espiritual, e não burocrata.

Além disso, os Bispos Anglicanos, ao contrário da maioria (com grandes excessões) dos Bispos Romanos, não se metem nas questões particulares e de consicência das pessoas: como sabem que são humanos, têm também seus problemas e suas dores - por isso, evitam julgar!

Eu não demonizo a Igreja de Roma, como fazem muitos evangélicos, até porque não sou evangélico, muito menos do "mundo evangélico de consumo religioso"! Mas fui aluno jesuíta, conheci o ambiente romano por dentro e pelos bastidores dos diversos movimentos laicos e sei muito bem como se pensa naquele curral do Senhor: ainda hoje acreditam que só eles são curral do Senhor, e que os demais (as outras Igrejas) são incompletos... muita arrogância, não é?

Mas, mesmo não demonizando, começo a achar que a Igreja Metodista, no Brasil, está com a razão ao se negar a qualquer relação ecumênica com a Igreja Romana. Isso não é um desabafo, mas uma conclusão a que estou chegando, ao rever o pontificado de João Paulo II e antevendo a tragédia que será, para o mundo cristão, o pontificado de Bento XVI .  

"Xô, Bento! Cruiz credo, padre-nosso treis veiz! arreda!"

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Nota: para ler na íntegra o artigo de Hans Küng, visite a página da Associação Rumos (padres casados):
http://www.padrescasados.org/?p=340
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