Em um texto recente, partilhado no Facebook, o Rev. Marcos Inhauser chama a atenção para duas maneiras de pensar a fé cristã: a Teologia da Justiça Retributiva e a Teologia da Graça. Segundo Inhauser,
“Há duas grandes correntes de teologia: a da justiça retributiva e a da graça. A primeira tem uma multidão de seguidores. Acho que não exagero se digo que mais de 99% a seguem. A característica desta é que é sinergista: Deus faz a parte d’Ele e o ser humano tem que fazer a sua. A outra afirma a graça de Deus, o favor imerecido. Não é o pagamento de algo que se faz ou se deixa de fazer, não é o agir de Deus constrangido por alguma circunstância, não é resposta à oração. É o agir motivado somente pelo amor de Deus. A primeira vê as dificuldades, os obstáculos, os períodos de trevas como sinais do castigo de Deus, em função de pecados conhecidos ou ocultos. A segunda vê em tudo a graça de Deus. No dizer de um cântico: “indo e vindo, trevas ou luz, tudo é graça, Deus me conduz”. Ainda que seja no vale da sombra da morte, a presença d’Ele se faz sentida e a graça se manifesta.”
A Teologia da Graça me é mais simpática. E, de fato, experimento em minha vida o agir de Deus sem que me sinta obrigado a fazer algo para merecer esse agir; inspira em mim o sentimento de gratidão ao perceber o que Deus fez e faz! E também indignação quando Ele não faz o que eu penso que Ele devia fazer!!! mas depois da indignação, acabo percebendo Seu Coração Misericordioso.
Obviamente, a Teologia da Justiça Retributiva é mais condizente com as ideologias da modernidade e da pós-modernidade: é bastante lógica, ouso dizer aristotélica: ação e reação! Faço o “bem” e Deus me retribui com bênção! não faço o “bem”, Deus me retribui com castigo! Muito justo! As contas ficam zeradas, o balanço final é fechado sem perdas ou ganhos. Isso gera comportamentos religiosos dos mais interessantes, uma permanente negociação com Deus em troca de Seus favores. O problema desse tipo de pensamento é que coloca Deus refém das minhas ações. Como qualquer juiz, Ele apenas cumpre o que é determinado pela norma. Não há soberania de Deus, não há contemplação nem percepção da realidade amorosa de Deus.
Realmente é muito complicado para a nossa mentalidade pensar a gratuidade do amor de Deus. É contra o bom senso! exatamente porque o sentido da gratuidade não faz parte da nossa visão de mundo, da nossa maneira de viver. Por outro lado, uma má percepção do conceito de Graça faz surgir também comportamentos muito estranhos, como “sinais da bênção”, coisas como “dente de ouro” (uma histeria coletiva que percorreu igrejas históricas nos anos 80/90, quando um “dente de ouro” aparecia milagrosamente na boca do crente!!!).
Após minha experiência de encontro com Jesus o Cristo, conheci a Teologia da Graça no meio Protestante, durante minha busca de uma comunidade de fé – uma vez que o dogmatismo da Igreja de meus pais não me permitia a reflexão fora da doutrina formal; então meu coração e minha mente tomou consciência do chamado vocacional. E para isso tive, como ainda tenho, de aprender a viver na total dependência da misericórdia Deus. Isso não é uma coisa simples para alguém que, como eu, foi educado e treinado no contexto da objetividade aristotélica-cartesiana.
Mas vou caminhando, com a Graça de Deus, em meio às confusões conceituais dos dias de hoje, mantendo meu lema de vida desde a conversão: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia n’Ele, e o mais Ele fará.” (Salmo 37.5)
===/===
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.
Ele será submetido à avaliação, e se aprovado, será postado.
Este não é um blog de debates ou discussões, mas de reflexão.