15 de abr. de 2010

Na partilha do pão, o Ressuscitado parte o Pão!

               “Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios.  E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas. Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer.  Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos. 
Um, porém, chamado Cleopas, respondeu, dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias? 
Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam.  É verdade também que algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo ido de madrugada ao túmulo; e, não achando o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que ele vive. De fato, alguns dos nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as mulheres; mas não o viram.
Então, lhes disse Jesus:  Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?  E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras. Quando se aproximavam da aldeia para onde iam, fez ele menção de passar adiante. Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina. E entrou para ficar com eles.
E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles. E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?
E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e outros com eles, os quais diziam: O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão!  Então, os dois contaram o que lhes acontecera no caminho e como fora por eles reconhecido no partir do pão.” 
(Lucas 24. 13-35)

Enquanto a conversa se limita à explicação teológica, o peregrino que se apresenta é apenas um peregrino, mais um a caminho como tantos, um peregrino que tem conhecimento da Escritura; mas é apenas um caminheiro que se junta a outros dois.  As dúvidas, as incertezas, e a tentativa de entender os fatos recém acontecidos, os quais frustraram a utopia,  fecham os olhos do Coração e da Mente.  Toda a explicação que recebem sobre a Escritura não esclarece a situação, nem refaz a esperança. São palavras, um discurso que mesmo fazendo sentido, não dá sentido aos fatos nem reduz a frustração da utopia  que se tornou atopia.

Entretanto, o sol se põe e dois deles chegam a seu destino. Mesmo frustrados, mostram-se próximos ao terceiro caminheiro.  “Fica conosco, é tarde, o dia já declina”. O convite supera o discurso. Já não é uma explicação, nem uma pergunta, mas um convite, uma abertura do coração a alguém que – naquele momento – se tornaria um solitário no caminho, se o convite não fosse feito.  Oferece-se a partilha da mesa e do teto; oferece-se a acolhida incondicional ao Desconhecido que – de  repente – se torna o Reconhecido, e ao ser reconhecido se dissolve na percepção do Mistério que se revela.

O reconhecimento da Presença do Ressuscitado não é algo resultante do discurso das explicações lógicas. A Presença se torna visível quando, primeiro, vem a palavra do Coração, o convite solidário, o gesto de quem se faz próximo. Só a quem se faz próximo e – portanto – solidário, o Ressuscitado se revela no momento da partilha.

Olha ao teu redor! talvez o desconhecido que caminha ao teu lado seja Aquele que quer ser reconhecido. Abra teu coração e torna-te próximo.  Com certeza, teu coração O verá!

>>> (veja também a postagem mais abaixo,  “Quem é meu próximo?”)

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3 comentários:

  1. creio que o ser humano tem estado só!mesmo na multidão, e quer ser convidado para ficar e passar um tempo.. a tv, a internet e toda essa tecnologia tem afastadado cada vez mais os seres...
    já é chegado o tempo de retornamos nosso papel como cristãos e exercer a diacônia para com o nosso próximo.
    façamos nossa parte e a diferença e transformação da humanidade deve começar por nós!
    uma caminhada de um quilômetro começa com o primeiro passo!

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  2. Entendo que a experiência do re-conhecimento do Ressuscitado é a Graça atuando já na inspiração do gesto solidário.

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  3. Importante perceber que o encontro com o Ressuscitado não é uma "visão", mas a percepção de uma Presença em Mistério que se revela a partir do gesto solidário de um convite: "Fica conosco"; o Mistério se revela no momento da partilha do pão, exatamente por que houve antes um convite solidário. O Ressuscitado é o Outro, aquele de quem se é próximo (cf. o autor, em postagem anterior).

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