25 de set. de 2011

Tolerância Religiosa, vírgula!

S.Paulo e S.Pedro - A Igreja nasce com diferenças, porém em comunhão!Antes que os politicamente corretos de plantão comam meu fígado, devo deixar claro que eu não defendo a guerra religiosa, nem tampouco considero a minha religião como a única verdadeira. Pelo contrário, meu encontro com a fé cristã se deu no contexto ecumênico, no tempo em que ecumenismo era mais que um chazinho entre hierarcas das Igrejas.  Por isso, eu procuro viver a minha fé dentro do contexto da diversidade que o mundo globalizado nos impõe.

Também preciso dizer que defendo a liberdade de expressão e de opinião, e em tempos passados eu mesmo fui vítima de um regime que não permitia nem a liberdade de opinião e muito menos de expressão.

Todavia, eu não posso ficar calado, nem respeitar, certas práticas ditas religiosas que, na verdade são grandes enganações com a finalidade de explorar a boa fé das pessoas desesperadas e/ou ignorantes. Não posso concordar que haja liberdade em explorar o desespero alheio ou – o que é pior – usar o nome de Deus (seja lá qual for) para a venda descarada de “bênçãos" e graças” que simplesmente mantém as pessoas na total dependência de uma prática “religiosa” de compra e venda.

Um dos pontos essenciais da Reforma Protestante, no século XVI, foi a revolta contra o poder absoluto da instituição eclesiástica que se autoproclamava proprietária da graça divina e da “salvação”, verdadeira usurpação de poder, criando o círculo vicioso de dependência e lucro (dependência para os crentes e lucro para a instituição).

Com razão, os Reformadores e a Tradição que herdamos da Reforma, se manifestam contra qualquer tentativa de vincular o poder divino, de forma absoluta e exclusiva, a uma instituição ou pessoa humana (que não fosse o Senhor Jesus Cristo, claro).

Ainda há algumas décadas atrás, os pregadores protestantes proclamavam a falácia de ritos e práticas religiosas como necessárias à Salvação em Cristo. E tanto tinham razão que a própria Igreja de Roma, no seu Concílio Vaticano II, aboliu a maioria dessas práticas e adotou uma postura mais aberta ao diálogo e à cooperação com os diferentes. (Se hoje vemos a Igreja Romana retroceder em muitos desses pontos, é outra questão).

Por isso, em fidelidade à Tradição que aceitei como “background” para expressar a minha experiência pessoal de fé, não posso ser tolerante, nem respeitar o seguinte:

1. Todo tipo de fundamentalismo bíblico (ou com base em qualquer “texto sagrado”) que determine uma maneira exclusiva de comportamento moral e doutrinário como verdadeira fonte de salvação, e, por isso mesmo, demoniza, persegue ou segrega quem pensa de forma diferente ou não vive segundo tais preceitos. Não posso ser tolerante com os intolerantes!

2. Toda pregação religiosa que proclama a salvação através da venda de amuletos, ritos, bênçãos, etc., apresentados como necessários e fundamentais para a ação da Graça de Deus na vida de qualquer pessoa. Não posso ser tolerante com os vendedores de bênçãos e proprietários de supermercados da religião, porque transformam o Sagrado em mercadoria, uma blasfêmia – no meu entender.

3. Toda espiritualidade e religiosidade fundamentada exclusivamente no carisma pessoal de um pregador ou líder religioso, que se autoproclama escolhido (e de forma exclusiva) pelo Divino, detentor único da verdade e do poder celestial. Não posso ser tolerante com os que usurpam o nome de Deus e se confundem com Ele.

( A propósito, nesse ponto, alguém pode alegar incoerência de minha parte, pois sendo cristão, minha espiritualidade se fundamenta essencialmente no carisma pessoal de Jesus de Nazaré. Todavia, diz a Tradição comum aos Cristãos, que Jesus não se anunciou como Deus, mas foi reconhecido como tal pela Igreja, e jamais fez uso desse fato para se impor a quem quer que fosse. Como diz o Apóstolo Paulo na carta aos Filipenses, “[…] a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homem e reconhecido em figura humana; a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz[…]” ).

Bem é isso. Hoje é domingo, tenho de ir à Igreja para cumprir meu ofício e servir à congregação pela qual sou responsável como sacerdote em Cristo e pregador do Evangelho.

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