22 de abr. de 2009

Missão e Crescimento da Igreja: o conceito de Missio Dei

O conceito de "Missio Dei" tem sido o fundamento para a reflexão anglicana sobre a missão da Igreja. Trata-se de uma abordagem não eclesiológica de Missão, mas escatológica. Não determina "como a Igreja deve ser", nem "o que ela deve fazer". Esse conceito procura perceber a ação de Deus na História, ou seja, pressupõe uma perspectiva cristã da História.

Em Cristo, Deus está em missão. A missão é de Deus, a Ele pertence, é Ele quem age através do Espírito Santo. Portanto, é na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja que vamos encontrar os parâmetros fundamentais da nossa Missão, que está sempre inserida na Missão de Deus.

Resumindo, Deus atua também através da ação evangelizadora da Sua Igreja - aqui entendida como a comunidade eclesial, não a instituição eclesiástica. Ou seja, cada cristão e cada cristã são cooperadores de Deus em Sua missão.
Por isso, é importante diferenciar "Evangelização" de "Evangelismo". Esses dois conceitos são distintos, embora, hoje em dia - no universo evangélico do Brasil - muita gente trata os dois conceitos como sinônimos.

Evangelização é a presença da Igreja no mundo, como sinal (sacramentum) e testemunha (martyria) da ação de Deus - em Jesus Cristo - na História, guiada pelo Espírito Santo. O conceito de Evangelização deixa claro que a ação da Igreja não é, simplesmente promover seu próprio crescimento institucional ou eclesial. Implica que a Igreja é, ela mesma, resultado da ação de Deus; por isso, deve estar envolvida e engajada em todos os aspectos da realidade, inserida na vida e na história, promovendo a vida em abundância, pois é sinal da presença d'Aquele que veio para que todos tenham vida e vida em plenitude (cf. João 10.10b).

Portanto, a ação de evangelizar não é só proclamar a Boa Nova, mas atuar no mundo à luz do Evangelho. Cada cristão e cada cristã atua, fortalecido pela graça, na Missio Dei através da evangelização, inserido-se, como cidadão e cidadã responsável, no mundo onde "há muita força que produz a morte", no dizer de uma canção de louvor dos anos 80 (Momento Novo). Essa inserção no mundo significa tomada de posição diante da realidade, a partir dos valores do Reino.

Cada um de nós, cristãos, é cooperador na Missio Dei (Missão de Deus), através das ações, posições e coerência com os valores do Reino que anunciamos. Evangelizar não é sair do mundo, mas - guardados do mal pelo poder de Deus - é estar presente no mundo. É crer que o mundo é redimido pelo sacrifício de Jesus Cristo, e anunciar isso através da prática coerente com os valores do Reino; é acreditar que, exatamente por causa dessa redenção, um outro mundo é possível e posicionar-se como agente de transformação. (cf. João 17.11-18)

Evangelismo é o simples ato de fazer proselitismo, buscar conversões, fomentar o crescimento da Igreja quanto à sua membresia. O evangelismo implica em usar estratégias de convencimento imediato e táticas de propaganda. O objetivo é, quase sempre, retirar a pessoa do mundo para colocá-la na Igreja, "protegendo-a do mal" e alienando-a da realidade social que a cerca.

Assim, com tal visão de missão, a Igreja deixa de ser a comunidade de anúncio e testemunho - deixa de ser sacramento, proclamação e martírio para se tornar a comunidade dos ausentes, dos auto-excluídos.

A Comunhão Anglicana entende que a Missão tem cinco características:
  1. Proclamar as Boas Novas do Reino de Deus, através da pregação da Palavra, o testemunho do amor salvador e reconciliador de Cristo para com todas as pessoas, através de atos concretos que se incorporem aos propósitos de Deus;
  2. Batizar, ensinar, nutrir e apoiar os novos cristãos, através de comunidades de fé que procuram ser acolhedoras, não excludentes, celebrativas e transformadoras das relações humanas;
  3. Responder às necessidades do próximo com o serviço amoroso, e desinteressado, em solidariedade e compromisso com os mais pobres e necessitados, em ação diaconal, sem exigir ou esperar que eles necessariamente se incorporem à Igreja;
  4. Buscar a transformação das estruturas injustas da sociedade, exercendo a vocação profética, vigilante contra toda injustiça e denunciando-as, bem como a toda forma de opressão, exclusão e violência;
  5. Proteger a integridade da Criação, cuidando do meio ambiente e promovendo todas as formas de vida no planeta, em cooperação com outros grupos onde se possa identificar o agir de Deus.
Eu estou seguro que o real crescimento da Igreja não é decorrente da propaganda e estratégias de convencimento ou do carisma pessoal de determinado pregador. Crescimento da Igreja não significa aumento de clientela! Fazer a Igreja crescer não é fazer proselitismo ou evangelismo. O crescimento da Igreja é obra do Espírito Santo, é resultado da Missio Dei.

Isso é bem claro no Novo Testamento: Jesus anunciou a Boa Nova do Reino, não buscou fazer prosélitos ou seguidores; os apóstolos anunciaram a Boa Notícia, faziam a boa obra e tinham plena consciência de que o incremento da comunidade era obra de Deus (Atos 2.42-47; Atos 5.42; Atos 14.27; 1 Coríntios 2.1-5; 1 Coríntios 3.6-9). O Apóstolo São Paulo não se identificava com aqueles que "estão mercadejando a Palavra de Deus" (cf. 2 Coríntios 2.14-17).

Creio ser da máxima importância que a Igreja em todos seus níveis institucionais reflita profundamente sobre o significado bíblico da Missão.

3 comentários:

  1. Rev. Caetano, acho que você tem toda razão em jogar duro com esse pessoal que usa o nome do Senhor como mercadoria!

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  2. Oi! Fui o "anônimo" que falou sobre Missão! queria provocar você, querido. Obrigada pela postagem do tema! Bjks!

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  3. Para uma Cristã Ortodoxa, a forma de abordagem do tema é muito estranha. Acho que nunca vou entender o Protestantismo.

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