19 de jan. de 2011

A Fábula do porco-espinho

www.monteselvagem.pt  “Durante a era glacial muitos animais morriam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram juntar-se em grupos. Assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente.

Mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor. Por isso, decidiram afastar-se uns dos outros e começaram de novo a morrer congelados. Então precisaram fazer uma escolha: ou desapareciam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros.

Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que a relação muito próxima podia causar, já que o importante é o calor do outro. Dessa forma, sobreviveram.

Moral da estória: o melhor relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas, mas aquele no qual cada um aprende a conviver com os espinhos (defeitos) do outro e admirar suas qualidades.”

O texto não é meu. Recebi-o em um folheto, que me foi entregue por uma paroquiana; não consta autoria no folheto. Trata-se de uma fábula, até porque os porcos-espinhos não costumam viver em grupos, mas formam famílias.

  No momento presente, a sociedade humana tem sido, cada vez mais, incentivada a viver o isolacionismo pessoal, em nome da felicidade. Os slogans e as “técnicas de auto-ajuda” colocadas à disposição no mercado, insistem no “ame a si mesmo primeiro”; “escolha o que for melhor para você”; “priorize você mesmo”; ou seja, somos constantemente incentivados cada a um a cuidar da sua própria vida, sem dar importância aos demais. Talvez por isso, as pessoas gastem mais tempo “teclando na internet” que conversando pessoalmente. Talvez por isso, o número de pessoas solitárias está aumentando nos centros urbanos. Afinal, conviver com o outro é uma aporrinhação – o outro tem espinhos, como eu também, mas os meus espinhos não me machucam!

   Por outro lado, quando acontece alguma tragédia, a mesma mídia que incentiva o egocentrismo, convoca a solidariedade! Temos visto isso cada vez que ocorre uma catástrofe natural, como por exemplo, as chuvas de janeiro que costumeiramente matam pessoas no Brasil. Então vemos o “espetáculo da solidariedade”: milhares de pessoas, incentivadas pela mídia, voluntariamente, começam a doar gêneros alimentícios, roupas, remédios, dinheiro, etc… Todavia, um mês ou menos tempo depois, quando a tragédia já não é mais uma notícia espetacular, ninguém mais se lembra dos flagelados. Cessa a solidariedade, fica apenas a lembrança de que “algo terrível aconteceu mas fiz a minha parte, doei umas roupas velhas e 40 litros de água potável…” As mesmas grandes empresas que acorreram em solidariedade logo após a tragédia, voltam a explorar a população; os órgão do Estado que imediatamente tomaram providências para resolver a situação de emergência voltam ao marasmo da sua irresponsabilidade permanente de não zelar pelo bem comum. E assim as tragédias se sucedem bem como o show da solidariedade, que disputa audiência com os Big Bostas Brasil do Bial e a contratação de um atleta metido a estrela por um clube popular…

  A vida continua na mesmice de sempre, o Carnaval vem ai, e o fato mais importante é ver quem consegue sobreviver na Casa do BBB e levar a grana toda (quem foi o mais esperto!).

  Enquanto isso, os porcos-espinhos continuam também sobrevivendo…

 Foto: www.monteselvagem.pt

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5 comentários:

  1. Pois é irmão... Por entre o BBB e o 'espetáculo da tragédia', entre o carnaval que se aproxima e o 'espetáculo da solidariedade', entre a histórica incompetência dos governos e a 'novela do Ronaldinho Gaúcho', (...) resta-me perguntar: como estão as vítimas das enchentes, em maio de 2010, na zona da mata sul do estado de Pernambuco? As vítimas das enchentes, no mesmo período citado, no estado de Alagoas? (...)

    Estamos em janeiro... maio se aproxima.

    Até quando ficaremos contabilizando vítimas? Consultando 'especialistas' para dizer o que devíamos ter feito? (...)

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  2. Querido, é exatamente por causa do "depois da mídia" que recomendei à Igreja Episcopal aportar os recursos dos fundos de emergência para depois de um mês, pelo menos, da data da tragédia. Porque é quando cessa o sensacionalismo que as populações atingidas realmente vão precisar de ajuda e monitoramento do poder público para que cumpra com as suas responsabilidades!

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  3. Mano, o drama das vítimas das tragédias, naturais ou provocadas (geralmente provocadas por irresponsabilidade) é exatamente esse que vc comentou: caem no esquecimento! Veja só o Haiti! E bem lembrado pelo Halves, o pessoal de Pernambuco e Alagoas...

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  4. Maninho, adorei!!! vou usar na meditação de domingo na Abadia! Bjs.

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  5. Espero que as lições acumuladas pelas costumeiras "ondas de solidariedade mundial" diante de catástrofes, inspirem às autoridades brasileiras melhor gestão e planeamento, inclusive com ações legais, visando a reconstrução e impedindo a ocupação das áreas de grande risco.

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