25 de abr. de 2011

Cuidando da Casa da Comunidade

celtasOs celtas antigos não construíam templos; para eles, nenhuma construção humana pode conter o Divino, a não ser o próprio templo que a Divindade construiu para si mesma, ou seja, a Natureza. Assim, a religião da Antiga Tradição realizava todos os seus ritos a céu aberto. Em se tratando de uma religião da natureza, isso é bastante lógico e óbvio.

Mas os cristãos, desde muito cedo, celtas ou não celtas, constroem sua igrejas, templos onde a Divindade não habita exclusivamente, mas que se torna um espaço separado – sagrado – onde a comunidade se reúne para o louvor e a adoração. Para os cristãos, a Divindade caminha conosco na História; assim é o Deus que se revela na Bíblia. É a comunidade, não a Divindade, que necessita do templo para viver melhor sua experiência existencial com o Divino. Assim, no decorrer da História, a Igreja do Oriente e do Ocidente construiu templos das mais variadas formas, dos mais variados estilos, desde as muito simples capelas e ermidas até as grandes catedrais góticas. Todas elas como espaços de oração, descanso e que querem mostrar a glória de Deus.Interior do Templo

Estou com a responsabilidade pastoral de uma comunidade cristã cujo templo é uma obra de arte arquitetônica e um dos mais belos templos da Igreja Episcopal no Brasil, e essa tem sido uma experiência muito agradável e ao mesmo tempo muito árdua. Não pelo cuidado pastoral – meu dever maior – mas pela responsabilidade compartilhada com a comunidade de zelar pelo templo.

Um templo construído entre os anos 20 e 30 do século passado, quando as técnicas de engenharia não contavam ainda com o concreto armado, tijolos refratários, tubulações seguras para a eletricidade, a água e os esgotos, cuja ventilação é totalmente dependente do desenho e não da possibilidade de instalação de ar-condicionado… ou seja, um prédio de manutenção complicadíssima e muito cara!

E isso agravado pelo fato que, por mais de 30 anos, por diferentes razões, o edifício não recebeu manutenção adequada estando com sérios problemas estéticos e necessitando de restauração geral cujo orçamento está muito além dos recursos da comunidade ou mesmo da Diocese. Por isso, estamos cuidando de conseguir o tombamento do edifício, não só pelo seu valor histórico em Santa Teresa (uma aldeia no centro do Rio de Janeiro) mas também como garantia de manutenção patrocinada permanente.

A questão que se coloca na consciência de qualquer cristão é se realmente é importante a preservação do templo, se vale a pena buscar recursos de monta para isso diante de tantas urgências que se colocam para a Igreja.

Nave vista do PresbitérioEu afirmo que a manutenção do templo, sua restauração e conservação é – também – uma urgência para a Igreja. São vários os motivos que justificam tal postura ética.

Em primeiro lugar, a comunidade necessita do espaço sagrado para sua vida de adoração, estudo e convívio. Claro que para isso bastaria um espaço simples e barato, mas nós recebemos este templo como herança dos ancestrais da comunidade, as gerações que antes de nós e sob a mesma identidade (Igreja de São Paulo Apóstolo) construíram e partilharam esse templo em sua caminhada na história.  Honrar essa memória e essa história é uma responsabilidade que a comunidade de hoje tem e a de amanhã terá de assumir.

Em segundo lugar, o templo da São Paulo Apóstolo é parte da história de Santa Teresa, parte de sua herança arquitetônica, e um dos mais belos edifícios religiosos do Rio de Janeiro pela sua simplicidade e ao mesmo tempo grandiosidade! (características do estilo gótico: simplicidade decorativa, iluminação e grandiosidade estética). Além de ser uma referência turística, o templo e o complexo paroquial têm servido como espaço de serviço e acolhimento de muitas iniciativas da população do bairro. A comunidade, de formação ecumênica, abre o seu espaço sagrado para outras atividades, especialmente culturais e artísticas e até mesmo como local de repouso e acolhida, como testemunho do amor de Deus por todas as pessoas, o Deus que não exclui mas que busca ser presença e companheiro de cada ser humano.

Em terceiro lugar, é dever da comunidade preservar o seu patrimônio, patrimônio da Igreja Diocesana, construído com as ofertas generosas recebidas de seus membros e irmãos e irmãs de outras comunidades pelo mundo.

Com a graça de Deus conseguiremos, como comunidade paroquial e diocesana, vencer o desafio e preservar com gratidão o legado que recebemos dos pioneiros que deram início à Missão de São Paulo Apóstolo no morro de Santa Teresa em 1917.

conheça o blogue da Paróquia São Paulo Apóstolo

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16 de abr. de 2011

Um exercício quaresmal

Vitral do Altar MórDurante este tempo de Quaresma pude viver uma experiência interessante por força dos deveres como Pároco de São Paulo Apóstolo. Decidimos, com a Equipe de Pastoral, realizar ofícios vespertinos todos os dias da Quaresma, exceto às segundas-feiras, dia do repouso semanal do clero diocesano.

O templo paroquial fica aberto ao público todas as tardes (exceto nas segundas-feiras) a partir das 14h30, e a equipe pastoral se reveza para o atendimento às muitas pessoas que visitam nosso templo para oração pessoal, aconselhamento e até mesmo para fotografar o templo, uma das atrações turísticas do bairro.

Na verdade, esse compromisso criou entre nós da equipe uma disciplina de oração comunitária cotidiana, característica da vida monástica; quase sempre estávamos pelo menos dois de nós presentes e nos reuníamos no presbitério; algumas vezes mais uma ou duas pessoas participavam conosco; como dois (ou três) é o quórum de Cristo, realizávamos o ofício, variando a liturgia conforme a riqueza da Tradição Anglicana, inspirada nos costumes monásticos.

O calendário litúrgico prevê, para os ofícios diários desta Quaresma, a leitura de perícopes mais ou menos sucessivas do livro do Profeta Jeremias e da Epístola de São Paulo aos Romanos. Quase sempre os textos nos surpreendiam e começamos a partilhar a reflexão sobre os textos, como parte da Liturgia da Palavra. Isso enriqueceu-nos muito pois nos fez refletir sobre nossa vocação, sobre a nossa comunidade paroquial, sobre a missão da Igreja aqui em Santa Teresa (uma “aldeia” no centro do Rio de Janeiro), até mesmo sobre a nossa Diocese e a nossa identidade enquanto Episcopais Anglicanos.

De certa maneira, essa experiência de realizar o ofício diário criou em nós uma disciplina enquanto grupo ministerial, bem como fortaleceu nosso senso de comunhão no  ministério e permitiu-nos desfrutar de ricas e inquietantes reflexões sobre nossa vocação e serviço; assim, decidimos manter os ofícios vespertinos diários como parte das atividades regulares da Paróquia, quase como norma disciplinar da equipe. Também aumentou em nós a coesão e a consistência em nosso planejamento paroquial e no preparo das atividades comunitárias.

Por exemplo, nesta Quaresma assumi para mim mesmo a responsabilidade pelas Homilias na missa dominical e devo reconhecer que o exercício dos ofícios diários me ajudou muito a desenvolver os temas abordados dentro do tema de reflexão quaresmal adotado para a Paróquia: Não diga ‘não’ a Deus!

Decidi publicar este pequeno relato no blogue a fim de partilhar essa experiência e incentivar os companheiros e companheiras de ministério a construírem uma disciplina de oração e reflexão com as equipes pastorais de suas comunidades, que normalmente são compostas por Seminaristas em estágio, Ministros Leigos, Acólitos, raramente outros clérigos, na maioria das vezes, pessoas voluntárias que se sentem vocacionadas ao serviço à comunidade. Com certeza isso fortalecerá a própria comunidade!

Para conhecer melhor a Paróquia São Paulo Apóstolo>>>  http://spauloapostolo.blogspot.com/

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