“Durante a era glacial muitos animais morriam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram juntar-se em grupos. Assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente.
Mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor. Por isso, decidiram afastar-se uns dos outros e começaram de novo a morrer congelados. Então precisaram fazer uma escolha: ou desapareciam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros.
Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que a relação muito próxima podia causar, já que o importante é o calor do outro. Dessa forma, sobreviveram.
Moral da estória: o melhor relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas, mas aquele no qual cada um aprende a conviver com os espinhos (defeitos) do outro e admirar suas qualidades.”
O texto não é meu. Recebi-o em um folheto, que me foi entregue por uma paroquiana; não consta autoria no folheto. Trata-se de uma fábula, até porque os porcos-espinhos não costumam viver em grupos, mas formam famílias.
No momento presente, a sociedade humana tem sido, cada vez mais, incentivada a viver o isolacionismo pessoal, em nome da felicidade. Os slogans e as “técnicas de auto-ajuda” colocadas à disposição no mercado, insistem no “ame a si mesmo primeiro”; “escolha o que for melhor para você”; “priorize você mesmo”; ou seja, somos constantemente incentivados cada a um a cuidar da sua própria vida, sem dar importância aos demais. Talvez por isso, as pessoas gastem mais tempo “teclando na internet” que conversando pessoalmente. Talvez por isso, o número de pessoas solitárias está aumentando nos centros urbanos. Afinal, conviver com o outro é uma aporrinhação – o outro tem espinhos, como eu também, mas os meus espinhos não me machucam!
Por outro lado, quando acontece alguma tragédia, a mesma mídia que incentiva o egocentrismo, convoca a solidariedade! Temos visto isso cada vez que ocorre uma catástrofe natural, como por exemplo, as chuvas de janeiro que costumeiramente matam pessoas no Brasil. Então vemos o “espetáculo da solidariedade”: milhares de pessoas, incentivadas pela mídia, voluntariamente, começam a doar gêneros alimentícios, roupas, remédios, dinheiro, etc… Todavia, um mês ou menos tempo depois, quando a tragédia já não é mais uma notícia espetacular, ninguém mais se lembra dos flagelados. Cessa a solidariedade, fica apenas a lembrança de que “algo terrível aconteceu mas fiz a minha parte, doei umas roupas velhas e 40 litros de água potável…” As mesmas grandes empresas que acorreram em solidariedade logo após a tragédia, voltam a explorar a população; os órgão do Estado que imediatamente tomaram providências para resolver a situação de emergência voltam ao marasmo da sua irresponsabilidade permanente de não zelar pelo bem comum. E assim as tragédias se sucedem bem como o show da solidariedade, que disputa audiência com os Big Bostas Brasil do Bial e a contratação de um atleta metido a estrela por um clube popular…
A vida continua na mesmice de sempre, o Carnaval vem ai, e o fato mais importante é ver quem consegue sobreviver na Casa do BBB e levar a grana toda (quem foi o mais esperto!).
Enquanto isso, os porcos-espinhos continuam também sobrevivendo…
Foto: www.monteselvagem.pt
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